A morte e o instituto do horror em Belo Horizonte

Do Hoje em Dia
26/06/2012 às 07:33.
Atualizado em 21/11/2021 às 23:05

O homem aprendeu a duras penas, há milhares de anos, quando começou a viver em grandes aglomerados urbanos, a cuidar de seus mortos, para evitar que outros morressem pelo mesmo mal invisível. Não conheciam, evidentemente, a existência de micro-organismos malignos, mas sabiam que, depois de morta, uma pessoa, mesmo a mais inofensiva em vida, poderia se tornar extremamente perigosa, se seu corpo não fosse cremado ou enterrado. E o faziam com o devido respeito ao morto e com cerimônias religiosas para afugentar os maus espíritos.

Sempre que tais cuidados não puderam ser seguidos, por escassez de recursos ou simples ignorância das autoridades, a cidade pagava alto preço. Foi assim, por exemplo, quando a peste bubônica matou um quarto da população europeia, em apenas seis anos, a partir de 1346.

Uma única pessoa contaminada pode dizimar uma população inteira que ainda não tenha criado antígenos contra determinado micróbio. Aconteceu com os Incas, no Peru, e com os Astecas, no México. Os dois impérios foram vencidos mais pelos micróbios, contra os quais eles não possuíam defesa, do que pelas armas dos conquistadores espanhóis.

Muito já se escreveu sobre o poder dos micróbios.

Um dos livros mais notáveis foi escrito no final do século passado pelo fisiologista americano Jared Diamond: “Armas, germes e aço: os destinos das sociedades humanas”. Seu livro, premiado com o Pulitzer, foi traduzido e publicado pela Record. Está disponível em livrarias e para compra pela internet.
Talvez fosse pedir muito às nossas autoridades que lessem esse livro e tantos outros que tratam do tema, mas certamente elas podem dar atenção às reportagens publicadas por este jornal, nos últimos dois dias, sobre a situação sanitária do Instituto de Medicina Legal de Belo Horizonte. Se for feita uma pesquisa, é possível que a situação, dado o descaso das autoridades estaduais, seja a mesma no IML de Betim, que em 2008 passou a ser responsável pelas necropsias de moradores de 15 municípios, onde moram 700 mil pessoas, na Região Metropolitana.

Os leitores do Hoje em Dia possivelmente se horrorizaram ao ler a manchete da edição de segunda-feira: “IML lança resíduos de cadáveres no rio Arrudas”. Não é para menos. Esperamos que as autoridades também se escandalizem e ponham fim a tal horror. É intolerável que diariamente 1.500 litros de água contaminada por cadáveres sejam lançados em redes de esgoto, sem qualquer tratamento.

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