A relação promíscua do BC com os bancos

21/07/2016 às 09:49.
Atualizado em 16/11/2021 às 04:24

Alexandre Tombini, antecessor de Ilan Goldfajn na presidência do Banco Central, nunca foi visto com bons olhos pelo mercado. Já Goldfajn é o queridinho.

A maior crítica a Tombini era a permissividade do BC e a ingerência do governo sobre as políticas monetária e cambial. Dizia-se, nos quatro anos e meio de seu mandato (janeiro de 2011 a julho deste ano), que quem presidia de fato o BC era Dilma.

Não é verdade. O que de fato aconteceu na era Tombini foi uma convergência entre a política monetária do Banco Central e a atuação do governo para baratear o crédito. Na sua gestão, o Copom levou o juro básico ao menor patamar da história, a 7,25%, entre agosto de 2012 e abril de 2013. Ao mesmo tempo, os bancos estatais Caixa e Banco do Brasil forçaram a redução dos juros na ponta ao tomador final (pessoas físicas e jurídicas). Foi assim, em maior ou menor grau, até a entrada de Levy na Fazenda, no primeiro ano do segundo governo Dilma.

Tombini era funcionário concursado do BC. Já Goldfajn era, até o início do mês passado, economista-chefe do Itaú. Trata-se de uma mudança de paradigma importante dentro da instituição.

No governo Dilma, a diretoria do BC foi blindada à entrada de banqueiros. O raciocínio era simples e coerente. Se quem ganha dinheiro com os juros são os bancos, os representantes dos bancos não poderiam determinar a taxa de juro. Já Temer abriu a porteira.

Como mostrei na coluna de segunda-feira (pode ser lida no portal do Hoje em Dia, clicando em opinião e depois em colunas), nas mais importantes diretorias do BC também foram colocados funcionários de bancos. Na Política Monetária, quem manda atualmente é Reinaldo Le Grazie, ex-diretor do Bradesco Asset Management; na Política Econômica, Carlos Viana, que era economista-chefe da Opportunity Asset; e em Assuntos Internacionais, Tiago Berriel, que veio da gestora de fundos Pacífico.

Foram estas pessoas que decidiram na reunião de ontem do Copom que a taxa de juro será mantida em absurdos 14,25% ao mês por, pelo menos, mais dois meses. Não existe justificativa para isso, a não ser preservar o lucro dos antigos patrões dos diretores do BC.

A inflação que se quer combater não é de demanda. Não existe inflação de demanda na depressão econômica. A pressão atual vem dos preços administrados e da entressafra agrícola. E, ainda, de um resquício de ajuste dos preços à desvalorização cambial. Então, os juros são inócuos.

O mercado aplaudiu a decisão do BC, entendendo a manutenção da Selic como um sinal independência do governo e intolerância com a inflação. Uma leitura obtusa e enviesada. Na verdade, o BC sinalizou que o setor financeiro continuará sendo privilegiado em detrimento do setor produtivo e que a inflação continuará a ser utilizada como desculpa para a manutenção dos juros escorchantes.

Não é com a ingerência do governo no BC que devemos nos preocupar, mas com a ingerência dos bancos.

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