É compreensível a demora da presidente do Brasil em cumprimentar o candidato do Partido Colorado a presidente do Paraguai, Horacio Cartes, por sua vitória nas urnas, no último domingo. Presa e torturada pela ditadura militar brasileira, Dilma Rousseff não vê com bons olhos o retorno ao poder do partido direitista que, com o general Alfredo Stroessner, governou o país ditatorialmente, por 35 anos.
Em junho do ano passado, Dilma não hesitou ao condenar o impeachment, pelo Congresso Nacional, do presidente Fernando Lugo – um ex-bispo católico eleito em abril de 2008 por uma aliança de partidos de oposição –, numa ação política na qual não teve direito de defesa. A presidente brasileira liderou o movimento que, em represália, suspendeu o Paraguai do Mercosul, enquanto o Congresso paraguaio, alinhado com os Estados Unidos, continua impedindo a inclusão do país de Hugo Chávez, defendida por Brasil, Argentina e Uruguai.
O Brasil é sócio do Paraguai na Binacional Itaipu e tem grande interesse em não criar dificuldades para os cerca de 400 mil brasileiros que vivem no país vizinho. Muitos desses chamados “brasiguaios” são grandes proprietários de terras e apoiaram durante a campanha eleitoral o candidato colorado. Por sua vez, Cartes, que fala português, é um milionário com negócios no Brasil. Ele teve seu nome citado no relatório da CPI da Pirataria, em 2004, pelo envolvimento da sua empresa Tabesa no contrabando de cigarros. A marca Eight, produzida pela Tabesa, é muito vendida no Brasil.
Há, portanto, pontos em comum para serem trabalhados pelo Itamaraty. Em junho, será realizada em Montevidéu a reunião de cúpula do Mercosul. Até lá pode ser decidido o fim da suspensão do Paraguai e negociada a aprovação do ingresso da Venezuela pelo Congresso Nacional. Para o Brasil, dada a importância econômica do país de Nicolás Maduro – cuja eleição foi reconhecida imediatamente por Dilma Rousseff – é importante que ele faça parte do mercado comum. Por sinal, Maduro se apressou em parabenizar Cartes, afirmando que espera a volta da democracia no Paraguai e que o novo governo “retome o caminho da democracia e da justiça social”.
O Partido Colorado governou o Paraguai entre 1947 e 2008 sem demonstrações de amor à democracia e à justiça social, mas tudo é possível na política quando há grandes interesses econômicos envolvidos. O milionário Horácio Cartes já demonstrou que tem competência nessa área.