(MICHELE SOUZA)
Após dois dias de paralisação, policiais militares e bombeiros de Pernambuco decidiram terminar a greve no início da noite desta quinta-feira (15). Reunidos em frente ao Palácio Campo das Princesas, sede do governo, no Recife, os grevistas decidiram encerrar o movimento, que foi marcado pelo aumento da violência no Estado, com saques e arrastões. Os PMs pediam aumento salarial de 50% para praças (cabos e soldados) e de 30% para oficiais, entre outras reivindicações. Um soldado da PM recebe salário de R$ 2.409. A greve já havia sido declarada ilegal pela Justiça na noite de quarta (14), e o governo João Lyra Neto (PSB) se dizia impedido de conceder reajustes imediatos em razão das restrições da legislação para ano de eleições. O governo não fez novas propostas, e manteve o que já havia proposto: reajuste de 14,55% em junho (acertado em 2011), incorporação da gratificação por "atividade de risco operacional" ao salário, quando militar for para reserva, ajustes nos critérios de promoção e melhorias na assistência médica e no hospital da PM. A categoria recuou diante do recrudescimento da violência no Estado e da multa de R$ 100 mil por dia imposta pela Justiça a associações da categoria em caso de descumprimento da ordem de retorno ao trabalho. "Nesse movimento a sociedade pernambucana não pode pagar o prejuízo", afirmou o soldado Joel do Carmo, um dos líderes do movimento. Ele negou que tenha havido recuo e disse que os PMs continuarão a lutar por aumento em 2015, fora das restrições eleitorais. Na assembleia dos policiais, alguns PMs demonstravam insatisfação com o desfecho do movimento. "A comissão [de greve] deve ter sido pressionada. Afrouxaram com medo", disse um PM que não quis se identificar. Um PM aparentemente alcoolizado chegou a subir no carro de som para reclamar com o soldado Carmo, mas foi contido por outros policiais. DIA DE MEDO A assessoria do governo informou que a gestão não considerava a greve encerrada, porque não havia ocorrido uma votação formal na assembleia dos policiais. Já os líderes da paralisação diziam que as tropas voltariam ao trabalho ainda nesta quinta. Saques, tiros para o alto, pânico nas ruas, PMs aquartelados e aulas, shows e jogos cancelados. A região metropolitana do Recife viveu nesta quinta-feira (15) o terceiro dia de greve de policiais militares de Pernambuco. Na capital, por exemplo, houve pânico generalizado quando, no início da tarde, um homem à paisana desceu de uma moto e deu tiros para o alto para dispersar um grupo que promovia um arrastão no comércio local. Pedestres que estavam na região saíram em disparada, causando desespero e incerteza nas pessoas que caminhavam no sentido contrário. Em minutos, um rumor sobre a presença de criminosos se espalhou pela região, e comerciantes se apressaram a baixar as portas das lojas. A reportagem acompanhou o corre-corre. "A gente desceu do ônibus e estava todo mundo correndo. A gente correu também. A situação está desesperadora", disse a dona de casa Alaíde Souza, 33, assaltada minutos antes por dois homens. Esse clima levou à suspensão de aulas e ao fechamento de repartições públicas. Os alunos da rede estadual de ensino na região metropolitana do Recife não tiveram aulas no turno da noite, e o expediente foi suspenso na Universidade Federal de PE. Outras instituições, como o Ministério Público do Trabalho, também não funcionaram e, por medida de segurança, cerca de 800 bicicletas de programas de compartilhamento foram retiradas das ruas do Recife. Para reforçar a segurança na Grande Recife, o governo do Estado recebeu reforço de integrantes da Força Nacional de Segurança Pública, pedido pelo governador Lyra Neto ao Planalto. Veículos do Exército também circularam no Estado. BARRICADAS Esse reforço, porém, chegou um dia após uma onda de saques ao comércio de Abreu e Lima, município localizado na Grande Recife. Nessa cidade, agências bancárias não funcionaram, e comerciantes locais investiram no reforço da segurança. Alguns instalaram barricadas de ferro para evitar novos arrombamentos. Lojista local, Márcia Muniz disse ter visto mulheres, idosas e até crianças levarem roupas durante o saque. "Busquei ajuda no quartel, busquei ajuda no posto policial e não consegui ajuda de ninguém. Só sei que assisti a minha loja sendo saqueada." Por todo o Estado, policiais permaneceram trancados nos batalhões à espera de um sinal sobre as negociações. A greve da PM levou a cenas como essas: um homem morto às 22h em Ipojuca somente teve seu o corpo recolhido da rua 16 horas depois, enquanto, num bairro do Recife, um ladrão foi atingido por tiros que partiram de ocupantes de um carro que passava no momento do assalto. Por um período de sete horas entre o final da tarde de quarta e o início da madrugada de quinta, sete pessoas foram mortas nas 14 cidades da Grande Recife, ante uma média de 4,6/dia no mês de abril. No fim da tarde, em meio a uma caminhada no Recife, a turista baiana Carolina Pereira comparava o clima local com a greve recente dos policiais da Bahia. "Está meio parecido com o que aconteceu na greve da PM, em Salvador. Pouca gente na rua e as coisas fechando cedo. Nem dá para a gente conhecer". Segundo a Polícia Civil, que manteve as atividades, 234 pessoas foram presas na Grande Recife durante a greve, sendo 102 em flagrante.