Diante das últimas notícias sobre as dificuldades financeiras da Samarco, solicitei à empresa e ainda estou aguardando alguns dados sobre o caixa e o cronograma das obrigações financeiras da empresa para este ano. Mas, hoje, não poderia deixar de registrar o rebaixamento da nota da mineradora pela agência de classificação de risco Standard & Poor’s, de CCC (especulativo) para D (em moratória, o grau mais baixo de classificação da agência). O rebaixamento é devido ao não pagamento, na última segunda-feira, de juros dos bônus emitidos pela empresa com vencimento em 2024.
De acordo com o relatório da agência, a Samarco “queimou sua posição de caixa até 2016 para manter as operações ociosas”. Isso significa que a mineradora, que está parada desde o acidente na barragem do Fundão, em novembro último, gastou tudo que tinha para pagar compromissos financeiros, salários, manutenção de equipamentos e investimentos na recuperação das estruturas comprometidas com o acidente e dos passivos ambientais e sociais.
A empresa está, portanto, sem capacidade para pagar seus credores. Mas só estará tecnicamente classificada como empresa em default passados 30 dias do não pagamento de seus compromissos, que no caso específico são os juros dos bônus vendidos pela empresa no mercado internacional. Sem dinheiro, fica a dúvida sobre até quando conseguirá pagar também salários, fornecedores e as multas pelo acidente acordadas com os governos estadual e federal.
A Samarco é controlada pelas duas maiores siderúrgicas do mundo, às quais não falta capacidade financeira
O curioso é que a Samarco sempre foi uma empresa financeiramente muito controlada e até conservadora. Sua alavancagem (endividamento sobre geração de caixa) sempre se manteve próximo dos 3%, um nível considerado muito saudável pelos bancos. Além disso, ao final do ano passado a Samarco registrava um caixa de R$ 1,823 bilhão. Um excelente nível de reservas para quando a empresa estava em plena atividade e gerando faturamento de R$ 6,481 bilhões (2015). Mas, um colchão pequeno para fazer frente à inesperada paralisação total das atividades. Somente no ano passado (usarei os dados do ano passado como referência, já que ainda não tenho os deste ano) a empresa pagou R$ 488,7 milhões em juros da dívida R$ 1,760 bilhão em amortização de financiamentos, o que somado já é mais do que o caixa ao final do ano.
Diante da iminência do desastre, dois caminhos se impõem à empresa. O primeiro, o reforço de caixa por iniciativa dos sócios controladores via operação de aumento de capital. A Samarco é uma joint venture dividida em partes iguais entre as duas maiores siderúrgicas do mundo, Vale e BHP Billiton, às quais não falta capacidade financeira. E a segunda, a recuperação judicial. A falência pura e simples também é uma possibilidade, mas que descarto por conta do valor dos ativos (mina, mineroduto, complexo de pelotização e porto).