Acordo nefasto

02/07/2016 às 06:00.
Atualizado em 16/11/2021 às 04:08

É inaceitável a articulação que, segundo a imprensa nacional, está sendo feita entre o Palácio do Planalto e líderes políticos do Congresso Nacional para evitar a cassação do deputado Eduardo Cunha. Nada justifica um acordo que passe por cima dos brasileiros para tentar salvar um personagem cuja lista de acusações de corrupção cresce diariamente. Além das suspeitas criminais, Cunha já mostrou inúmeras vezes que sua motivação na vida pública não é o desenvolvimento econômico e social do Brasil, mas sim usar a estrutura e os recursos do país em benefício próprio. 

O deputado afastado é réu em dois processos no Supremo Tribunal Federal (STF) por desvio de dinheiro público. A esposa dele, Cláudia Cruz, também é investigada e acusada de usar os cofres públicos para bancar luxo no exterior. Não bastassem esses casos para justificar o fim do mandato do parlamentar, nesta sexta-feira, em mais um capítulo da “Lava Jato”, a Polícia Federal prendeu o doleiro Lúcio Bolonha Funaro, tido como operador de negócios ilícitos de Eduardo Cunha. 

A prisão foi baseada em delação premiada do ex-vice-presidente da Caixa Econômica Federal, Fábio Cleto, que ocupou o cargo entre 2011 e 2015 por indicação do deputado. Cleto afirmou à Justiça que Cunha recebeu propinas em 12 operações de grupos empresarias financiadas com recursos do Fundo de Investimento do FGTS. Segundo a delação, o parlamentar cobrava comissões de 0,3% ou até mais de 1% dos repasses feitos com dinheiro dos trabalhadores. Somente neste esquema, Cunha pode ter recebido mais de R$ 30 milhões.

Até que todas essas acusações sejam investigadas e julgadas, o deputado afastado tem todo o direito de se defender. Mas é inconcebível que faça isso ocupando cargo no Parlamento e usando tal posição a seu favor. Com a manutenção do seu mandato – e o foro privilegiado –, Cunha mais uma vez manobra para salvar a própria pele. Se a Câmara dos Deputados aceitar essa anomalia política, passará à sociedade uma mensagem de fragilidade institucional, de cumplicidade com irregularidades e de descaso com a população.

Pesquisas recentes de opinião pública mostram que quase 80% dos brasileiros querem Eduardo Cunha fora do cenário político. E nem precisaríamos de estatísticas para captar esse sentimento. Em todos os lugares por onde passo, recebo manifestações indignadas. 

No último fim de semana estive em Santana do Deserto, Peçanha e Descoberto. A rejeição a Cunha é unanimidade. O mesmo acontece em Belo Horizonte e em minha cidade, Juiz de Fora, onde sou constantemente abordado por cidadãos que se sentem violados pela presença dele no Legislativo. 

É inadmissível compactuar com os defensores da imoralidade. A história já nos mostrou que presidente da República que ignora o recado das ruas não tem vida longa no poder. Terá meu apoio o governo que estiver disposto a batalhar contra nossos graves problemas nas áreas econômica e social, mas jamais daremos as costas para o povo. O presidente interino Michel Temer não pode usar a governabilidade como escudo para sucumbir às manobras de Cunha. 

Junto com meus colegas do PSB continuarei acompanhando de perto os desdobramentos do pedido de cassação do deputado afastado do parlamento pelo STF. Já nos manifestamos publicamente duas vezes cobrando o cumprimento dos prazos do processo na Comissão de Constituição e Justiça da Casa e não vamos nos calar. No que depender do nosso trabalho, a saída definitiva de Eduardo Cunha acontecerá o mais rápido possível para que o Congresso Nacional volte a se ocupar com suas verdadeiras responsabilidades: o desenvolvimento do Brasil.

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