Agentes da Polícia Federal (PF) prenderam na manhã desta sexta-feira, no Rio de Janeiro, Joseba Gotzon Vizan González, de 53 anos, acusado de integrar o grupo separatista basco ETA. Ele estava foragido desde 1991, quando teve a ordem de prisão emitida pela Audiência Nacional, tribunal espanhol encarregado de assuntos de terrorismo. Condenado a cerca de 20 anos de cadeia por um atentado a bomba que explodiu um carro e matou dois policiais na Espanha em 1988, González ficaria impune a partir da semana que vem, quando sua pena estaria prescrita.
"Conseguimos evitar que este crime grave cometido na Espanha ficasse sem punição. E também retiramos das ruas brasileiras uma pessoa extremamente perigosa. É uma prisão muito importante para os dois países", comemorou o superintendente da PF no Rio, Valmir Lemos de Oliveira.
González foi preso perto de casa, na zona sul do Rio, após três semanas de investigações. Ele estava acompanhado da mulher, também espanhola, e não ofereceu resistência. Ao ser preso, o espanhol perguntou informalmente aos policiais quais as possibilidades de conseguir refúgio ou asilo político no Brasil. "Ele afirmou que as acusações contra ele são de natureza política, já que foi filiado a um partido político na Espanha", revelou Oliveira.
Segundo a PF, González deixou a Espanha em 1991. Morou dois anos na França e chegou ao México em 1993. Está no Brasil desde 1996. Ano passado, requereu ao Ministério da Justiça o direito de residir permanentemente no país. Aqui ele dava aulas de espanhol num curso de idiomas e fazia traduções. "González utilizou documentos de outro cidadão espanhol, chamado Aitor Julián Arecha Echevarría, para requerer o registro nacional de estrangeiros. Ele confessou este crime no momento da prisão. Sabemos que Echevarría não reside no Brasil. Vamos investigar como González conseguiu esses documentos", afirmou o superintendente. Por conta disso, González vai responder no Brasil pelo crime de falsificação de documento público, com pena de 1 a 5 anos de prisão.
Denúncia
Há três semanas, após receber uma informação do governo espanhol de que González poderia estar vivendo no Rio com um nome falso, a PF levantou seis endereços onde ele poderia ser encontrado. O local exato foi localizado há três dias. "Antes de prendê-lo, decidimos checar com as autoridades espanholas se as digitais de Echevarría correspondiam àquelas que González forneceu ao requerer o registro de estrangeiros no Brasil. Como as digitais não batiam, tivemos a certeza de que se tratava de González e o prendemos", explicou Oliveira.
Na tarde desta sexta, González foi transferido para uma penitenciária na zona oeste do Rio. Ele ainda não havia constituído advogado para defendê-lo. Até o início da noite desta sexta, a Embaixada da Espanha no Brasil não havia confirmado se vai solicitar à Justiça brasileira a extradição do preso.
ETA
Em outubro de 2011, o ETA anunciou que abandonou definitivamente a luta armada, decisão que foi comemorada por autoridades espanholas. Durante cerca de 50 anos, o grupo lutou pela independência do País Basco - região que compreende o norte da Espanha e o extremo sudoeste da França. Desde seu primeiro atentado, em 1968, o grupo assassinou mais de 850 pessoas, entre autoridades e civis.
O grupo terrorista estava enfraquecido pela intensa pressão policial e pela falta de respaldo político para insistir na sua atividade armada. A decisão foi publicada no site de um jornal espanhol. O comunicado, porém, não disse o que o ETA fará com suas armas - cuja devolução é exigida pelo governo da Espanha como pressuposto para negociações.
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