Aécio e Dilma tentam apontar erros um do outro no primeiro debate do segundo turno

Patrícia Scofield - Hoje em Dia
15/10/2014 às 07:08.
Atualizado em 18/11/2021 às 04:37

(NELSON ANTOINE/ESTADÃO CONTEÚDO)

No primeiro debate na TV antes do segundo turno das eleições, no domingo (26), os presidenciáveis Dilma Rousseff (PT) e Aécio Neves (PSDB) focaram na tática da desconstrução da imagem do adversário e transpareceram nervosismo. O tucano voltou a destacar os escândalos da Petrobras, a alta da inflação, a dita “obsessão” de Dilma por Armínio Fraga - cotado para ministro da Fazenda de Aécio - e a briga pela paternidade do Bolsa Família. Segundo ele, o programa foi criado pelo ex-presidente FHC e pela ex-primeira dama Ruth Cardoso.

A petista optou por mencionar mais uma vez o aeroporto de Cláudio, o mensalão tucano e a responsabilidade de investir em saúde e segurança. O tom dos ataques, que incluiu também a discussão sobre o grau de “mineiridade” de cada um, só deu lugar a propostas no terceiro dos cinco blocos, quando o tema central foi educação.

“Quero responder olhando nos seus olhos, Dilma. O MPF (Ministério Público Federal) atestou a regularidade dessa obra (aeroporto em Cláudio). A refinaria Abraão Lima, quando a senhora foi ministra da Casa Civil, foi feita a sobrepreço para pagar propina. E eu deixei o governo de Minas com 92% de aprovação”, disparou Aécio.

Segundo Dilma, o tucano estava “enganado” e o MPF teria mandado investigar o “mau uso do dinheiro público”.

Outro momento de tensão se deu quando Aécio pautou o tema economia e Dilma admitiu que tem havido uma “pressão” dos preços da energia e de alimentos sobre a inflação. A petista alegou que o fato é “passageiro” e usou trechos de falas de Armínio Fraga para ressaltar um possível enfraquecimento dos bancos públicos caso Aécio seja eleito.


Coube ao tucano lembrar que o ex-presidente do Banco Central Armínio Fraga fora elogiado pelo PT. Dilma replicou: “Não escolhi o candidato à Fazenda que o senhor escolheu porque não acredito que com a mesma receita, com o mesmo cozinheiro, vá entregar um Brasil diferente. Vocês gostam de cortar emprego, cortar tudo. Quando Armínio entrou, a inflação estava sob controle, quando ele deixou o governo FHC, a inflação chegou a 7,7%”. O tucano disse que antes de FHC, a taxa era de 916% e que Dilma queria “enganar” os telespectadores.

Números embasam críticas mútuas sobre saúde e educação

Os candidatos à Presidência Dilma Rousseff (PT) e Aécio Neves (PSDB) travaram uma batalha de números sobre a saúde e educação em Minas Gerais, onde o tucano governou entre 2003 e 2010, e também sobre segurança pública, na esfera federal. Os temas foram priorizados no debate. A presidente já havia sinalizado, em entrevista concedida antes do debate, que centraria ataques na gestão de Aécio à frente de Minas no debate, ao passo em que o vice do senador, Aloysio Nunes (PSDB), tinha adiantado que focaria nos escândalo da Petrobras.

Dilma apontou que Minas não teria cumprido o mínimo constitucional de investimento na saúde - 12% do orçamento estadual - durante o governo de Aécio e que, dessa forma, “ele desviou R$ 7,8 bilhões”. A petista recomendou aos telespectadores consultassem os dados no site do Tribunal de Contas do Estado (TCE).

Em resposta, Aécio taxou de “inverdades” e destacou que a saúde em Minas foi avaliada pelo Ministério da Saúde, ou seja, pelo governo federal, como a “melhor do Sudeste”. “Não sei onde têm esses números, não são verdadeiros. Não falar a verdade tornou-se a tônica da sua campanha desde o primeiro turno. Vamos aumentar o Programa Saúde da Família, criado no governo FHC, que o seu governo abandonou”, rebateu o tucano.

Aécio creditou o baixo investimento na saúde e na educação à “ausência de regulamentação” sobre os setores, o que permitia a cada Estado definir quanto investir. A emenda 29, que estabeleceu o investimento mínimo nessas áreas, foi sancionada por Dilma em 2012. No mesmo ano, o governo mineiro assinou um termo de ajustamento de gestão com o Tribunal de Contas do Estado em que se comprometia a fazer um aumento gradual dos investimentos em saúde e educação.

Ao falar de segurança, Aécio disse que Dilma era confusa e destacou que nos oito anos que governou Minas, os crimes violentos caíram 48%, e que de acordo com o Tribunal de Contas da União, o PT deixou de investir R$ 20 bilhões em segurança.

Dilma respondeu dizendo que segurança não é obrigação federal, constitucionalmente, e que faria essa reforma na Carta Magna. “Confuso é o senhor, candidato, está no Mapa da Violência de 2014. O senhor também gosta de evitar ter sido governador, mas foi. Vamos criar centros de comando nos 27 estados e integrar PF, Forças armadas e polícias Estaduais”. 

Análise: Orion Teixeira - Colunista político

Tiroteio cansativo 


Anunciado como uma guerra entre os candidatos finalistas, o primeiro confronto não chegou a tanto, mas foi uma intensa troca de farpas e acusações entre eles que acabou por ofuscar o debate propositivo. O tiroteio pelos quatro blocos consecutivos deu a impressão de ter cansado os próprios concorrentes e, ao final, os beijinhos de despedida desfizeram o clima beligerante. O chumbo trocado acabou por igualar a disputa.

O momento de maior turbulência entre eles aconteceu no segundo bloco, quando o tucano Aécio Neves explorou as denúncias no caso Petrobras, no qual depoimentos acusam desvio de dinheiro para o PT e aliados. Dilma disse que tudo está acontecendo porque a ordem em seu governo é investigar. E citou uma série de outras denúncias do passado e recentes, como o mensalão mineiro e a construção de aeroporto em terreno de familiares, envolvendo governos tucanos e aliados. “Estão todos soltos e sem investigação. Acho isso imoral”, apontou ela, referindo-se ao não julgamento da maioria deles para o qual o tucano reagiu: “vou lhe responder olhando nos seus olhos, a senhora está sendo leviana”.

Ainda durante todo o debate, para compensar a desconstrução de seu governo por Aécio, Dilma gastou parte do tempo tentando fazer o mesmo com os 12 anos de governo tucano em Minas. Diante disso, insistiu na tese de que ele foi derrotado no primeiro turno por ter sido reprovado. No primeiro turno, a petista chegou em primeiro lugar, com 43% contra 39% do tucano. Pesquisa do Instituto Veritá, divulgada ontem, aponta que Aécio recuperou a liderança, com 57% contra 43% dela. A audiência bateu 13 pontos (Ibope), marcando o primeiro lugar a maior parte do tempo.

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