Ainda é cedo

Publicado em 07/06/2017 às 00:46.Atualizado em 15/11/2021 às 08:57.

No dia 1° deste mês o IBGE divulgou o PIB do primeiro trimestre. O resultado foi um crescimento de 1% no primeiro trimestre de 2017 em relação ao quarto trimestre do ano passado. Esta notícia foi propagada com muito entusiasmo pela mídia, que vinha a oito trimestres anunciando quedas consecutivas da atividade econômica. O presidente Michel Temer tratou logo de ir as redes sociais e cunhar a frase “acabou a recessão”.

De fato este resultado é uma sinalização positiva, marca a reversão de tendência de dois anos consecutivos de uma recessão histórica que provocou uma queda de 7% do PIB. Apesar de concordar com a importância da notícia tenho que dizer que, tecnicamente o presidente está errado.

Isso porque o crescimento de um trimestre isolado não quer dizer que saímos de fato da recessão que nos assola. Para dar como verdadeira tal afirmação, precisamos aguardar o resultado do segundo trimestre juntamente com a recuperação de mais indicadores econômicos. Por mais otimista que costumo ser em minhas análises, não vejo o crescimento do segundo trimestre como uma tarefa fácil, e explico o porque.

Para obtenção do resultado positivo do início do ano, contamos com um desempenho recorde do campo. O PIB da agricultura foi simplesmente o maior da história, o que não é esperado para o próximo período. Não porque seremos menos produtivos, mas pelo ciclo normal de colheita, que se concentram no início do ano.

A indústria também está ensaiando uma recuperação, mas outros setores importantes na composição do indicador não estão com a mesma performance. Houve queda no consumo das famílias, nos gastos do governo e no investimento. Investimento que pela recessão enfrentada sofre contingenciamento constante no orçamento, correspondendo atualmente a aproximadamente 15% do PIB, um dos menores níveis históricos. Para impactar o crescimento econômico o nível de investimento deveria estar na casa dos 25% do PIB.

A balança comercial foi destaque com recorde de superávit, e a expectativa é que nossas vendas menos nossas compras do exterior passem de US$ 56,2 para US$ 56,4 bilhões até o final do ano. A questão é que boa parte deste desempenho é atribuído a exportação de produtos básicos, o que é diretamente influenciado pela super safra.

A necessidade de cautela com a recuperação econômica, se reflete no Boletim Focus divulgado pelo Banco Central nesta segunda feira (05). Os analistas mantiveram a previsão da SELIC em 8,5% para dezembro. Uma queda maior nos juros seria uma boa mola para a retomada dos investimentos, mas as incertezas no campo político devem inibir o COPOM (Conselho de política monetária do Banco Central) de ser mais agressivo nos cortes.

A estimativa de crescimento para o final deste ano sofreu pequeno reajuste, passando de 0,49% para 0,50%.

Vale lembrar que o documento foi elaborado antes da prisão do deputado Rodrigo Rocha Loures, que pode a qualquer momento nos “presentear” com mais uma delação com consequências implacáveis para a economia.

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