Novela 'Éramos Seis' volta com nova roupagem à grade da Globo

Bernardo Almeida
07/10/2019 às 08:52.
Atualizado em 05/09/2021 às 22:06
 (Raquel Cunha / Divulgação Globo)

(Raquel Cunha / Divulgação Globo)

Sem se arriscar e recorrendo a fórmulas já consolidadas e temas facilmente palatáveis, “Éramos Seis” voltou com nova roupagem à grade de novelas da Globo. A história da família Lemos e as dificuldades econômicas enfrentadas por três décadas, com ponto de partida no momento em que o patriarca Júlio adquire uma casa financiada, havia sido encenada pela última vez há 25 anos, no SBT. 

Primeiramente adaptado em 1958 pela Record em dois capítulos, o romance de Maria José Duprê teve outra versão, na TV Tupi, em 1967. Somente em 1977 o roteiro hoje utilizado ganhou corpo – justamente na Globo, com texto de Rubens Ewald Filho e Silvio de Abreu, atual diretor de dramaturgia do canal. 

“Além de uma dramaturgia mais contemporânea, temos personagens mais complexos, nos quais nos aprofundamos. Lola, embora ainda seja uma personagem de 1920, vem um pouco à frente de seu tempo, tem pensamentos mais atuais”, disse o diretor artístico da novela, Carlos Araújo.

Contemporaneidade na qual Reinaldo Maximiano não crê. Pesquisador de teledramaturgia e professor de comunicação da Universidade Federal de Uberlândia (UFU), ele se mostra cético com a produção.“É muito curioso que a Globo decida produzir essa novela. Qual a necessidade de recontar essa história, o que a torna representativa para ser encenada hoje?”. 

Na opinião dele, a escolha evita riscos com um roteiro já testado e sem os danos de confrontar o gosto do brasileiro médio, no momento em que se questiona a destinação de recursos a produtores culturais que abordem temas polêmicos, o que se manifesta nos bons índices de audiência registrados até agora. 

Assim, a emissora se adequa ao perfil conservador que tem se firmado na sociedade brasileira nos últimos anos. Uma intenção que já havia embasado a versão de 1994, protagonizada por Irene Ravache e Othon Bastos nos papéis hoje ocupados por Glória Pires e Antonio Calloni. 

“O SBT estava tentando reativar o núcleo de teledramaturgia na época, deu uma pausa nas novelas mexicanas, procurava textos ajustados ao perfil conservador da própria audiência, com o homem provedor, a mulher submissa e mãe superprotetora e filhos com características diversas”, analisa Reinaldo, que respalda sua percepção a partir dos primeiros episódios, em que observou mudanças. 

“Esta versão é mais palatável. A fotografia é mais limpa. A casa é descaracterizada, não a reconheço, parece uma mansão e não aquele ambiente enclausurado do original. Com eventos mais ágeis, não parece um drama, mas uma novela feliz”, critica o pesquisador Reinaldo Maximiano.

Remakes são costumeiros em novelas, filmes e no teatro

A refilmagem de “Éramos Seis” se junta a outros folhetins várias vezes recontados na TV brasileira. Na lista há títulos como “Pecado Capital”, “Irmãos Coragem”, “Meu Pé de Laranja Lima”. A quinta encenação iguala a história de Maria José Duprê ao número de vezes de outro sucesso televisivo, “A Muralha”. 

Em 2011, a Globo adotou um novo horário para as novelas, às 23h, e as primeiras quatro produções dentro do formato foram justamente remakes: “O Astro”, “Gabriela”, “Saramandaia” e “O Rebu”. Só em 2015 veio um roteiro original, com “Verdades Secretas”.

“Remake é uma coisa muito comum. A gente vê isso no cinema, no teatro temos uma série de remontagens da mesma história, é incontável o número de vezes em que peças de Shakespeare são encenadas”, compara o pesquisador em teledramaturgia Reinaldo Maximiano. “Nas novelas, a qualidade depende da proposta. Com que intenção é feita? É para aproveitar aparatos tecnológicos? É para abordar questões que eram tabu?”.

“Quando a Globo refez ‘O Rebu’, por exemplo, lembro que acompanhei a repercussão e causou um estranhamento do público, que não reconhecia a fotografia como coisa de novela, era mais fria”, lembra o pesquisador, que viu a trama ser esvaziada na adaptação. “Não contaram nessa versão aquilo que era importante do Bráulio Pedroso no original. Tinha uma crítica social e política, não era só a investigação de um crime”, explica, ao se referir à adaptação que qualificou como canhestra.

“Há versões interessantes, uma proposta de remake tão boa quanto a primeira (versão), mas também há uma série de refilmagens que só servem para dar saudades do original”, brinca.

  

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