(PAULO LACERDA/FCS/DIVULGAÇÃO)
Foram mais de seis meses ocupando as paredes das galerias do Palácio das Artes sem ninguém poder visitar a exposição. “Para nós, foi angustiante, porque é um trabalhão danado montar as imagens, imprimir, colocar na parede e montar a luz. Sem falar que uma exposição presencial é outra coisa”, registra Bruno Vilela, um dos curadores do Festival Internacional de Fotografia de BH.
Com a autorização, publicada na semana passada, da Prefeitura de Belo Horizonte para a reabertura de espaços culturais como museus, galerias e cinemas, uma das primeiras atrações do Palácio das Artes já estava à espera do público desde dezembro. “Não sabíamos como a pandemia iria evoluir. Então deixamos tudo pronto para esse momento agora”, comemora.
Com o tema “Imagens Resolutivas”, a mostra integra a programação do festival, iniciada de forma virtual no final de 2020. “A gente fez ações paliativas, enviando imagens soltas em (tamanho) A4 para as pessoas montarem a exposição em casa, mas com o formato presencial criamos quase um ritual ali para que possamos observar, refletir e, de certo modo, conversar com as imagens”, diferencia.
O tema dessa quarta edição é resultado de uma palestra ocorrida no festival de 2017, quando o líder quilombola Nego Bispo observou que as imagens poderiam resolver questões do cotidiano ou que são colocadas para nós. A partir de uma convocatória para artistas e fotógrafos de todo mundo, a organização recebeu 1.745 inscrições, selecionando 43 trabalhos oriundos de 19 países.
“Foi um trabalho exaustivo, mas muito legal ao entendermos como os artistas interpretaram essa direção. (O resultado) É um panorama do que está acontecendo em diversos lugares do planeta. Cada um tem os seus problemas, com os fotógrafos propondo soluções a partir de seu contexto. O que a gente pode achar que é resolutivo aqui, em outro lugar não será. Algumas questões são locais, mas universais ao mesmo tempo”, analisa.
Vilela cita o uruguaio Federico Estol, que fotografa líderes indígenas quilombolas que estão sendo ameaçados, ao lutarem por seus direitos. “Isso também está acontecendo no Brasil, assim como em outros lugares da América Latina. É importante cada vez mais dar visibilidade a essas questões, para que haja debates e soluções e caminhos melhores para vivermos juntos, numa sociedade mais justa, respeitando o modo de vida de cada um”.
Outros já são mais assertivos, propondo soluções em suas imagens. Henri Bloomers, dos Estados Unidos, fotografa paisagens que contêm vários elementos plásticos que parecem fazer parte da natureza. “O plástico está tão presente na nossa vida que, olhando uma das imagens, ele parece uma flor, um elemento natural. No final das contas, se prestar um pouquinho mais de atenção, vamos perceber que é lixo. É de se assustar quando o incomum começa a parecer que comum”.