Sem demanda não há dólar alto que salve a balança comercial. Apesar da escalada da moeda dos Estados Unidos frente ao real, a perspectiva para Minas Gerais é de nova queda nas exportações, nas importações, no saldo e, por consequência, na corrente de comércio (soma das exportações e importações) em 2015, projeta a Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais (Fiemg). A balança comercial do Estado é refém de commodities, sobretudo do minério de ferro, e com o ciclo de preços desfavorável, mesmo a “contratendência” em alguns setores, como o de alimentos e manufaturados, não compensará o rombo da mineração. “O dólar valorizado melhora um pouco a situação, mas não consegue impedir a queda nas exportações se não houver demanda. Além dos alimentos, produtos manufaturados ganhariam competitividade lá fora, mas não há demanda no mundo. A Europa ainda se recupera da crise e na América do Sul o crescimento é baixo”, observou o consultor em negócios internacionais da Fiemg, Alexandre Brito. Ele projeta queda de 10% nas exportações e o mesmo percentual para as importações. Brito citou açúcar, café e carnes como produtos com potencial para bom desempenho, mas ponderou que ainda é muito incerta a trajetória de preço e demanda para eles neste ano. Sobre os manufaturados, como autopeças e produtos siderúrgicos, Brito lembra o cenário adverso na Argentina, principal parceiro do Brasil neste segmento. “Mesmo que, de modo geral, a tendência do dólar mais caro seja benéfica para a balança comercial mineira, só a cotação não é suficiente. Se o preço do minério está em queda e a demanda é menor, a balança fica comprometida porque o peso deste item é muito representativo”, disse o professor de economia da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), Lourival Batista de Oliveira Júnior. Corrente comercial do Estado é a menor em cinco anos Minas Gerais registrou em fevereiro deste ano o pior saldo para a balança comercial desde janeiro de 2010 e a menor corrente de comércio (soma das exportações e das importações) desde fevereiro de 2010. Enquanto o primeiro indicador aponta a fragilidade de uma pauta de exportações dependente do minério de ferro, o segundo indica o enfraquecimento da presença mineira no comércio internacional. O minério de ferro chegou a representar 46% das exportações do Estado em 2013 e encerrou o ano passado respondendo por 40% de tudo que Minas Gerais comercializa no mercado externo. Este ano, no primeiro bimestre, essa participação caiu para 27,5% em decorrência do preço mais baixo. No mesmo período de 2014, a representatividade era de 44%. Cotação Na semana passada, a cotação do minério bateu novo recorde negativo, a US$ 54,20 a tonelada. Desde janeiro de 2014, a perda de valor do insumo siderúrgico é de 57,5%. Commodity Agrícola Segundo produto mais exportado por Minas Gerais, o café perdeu força neste ano. O preço do café arábica no primeiro dia útil de 2014 era de US$ 117,82 (a saca de 60 kg). A saca abriu 2015 em US$ 167,38. Na última quarta-feira (25), o preço era US$ 143,44. Apesar da recente desvalorização, o café encontra demanda em alta e acumulou no primeiro bimestre deste ano US$ 715 milhões em vendas ao exterior, um salto de 49,2% sobre igual intervalo do ano passado. A participação do produto nas exportações mineiras chegou a 20%, uma expansão considerável em relação ao ano passado, quando respondia por 9% no primeiro bimestre. O coordenador do curso de economia do Ibmec, Márcio Salvato, também enxerga redução na corrente de comércio, mas não prevê queda nas exportações. “O minério caiu de preço durante todo o ano passado e este ano deve ficar estável. Além disso, a valorização do dólar favorece muito a economia mineira e a própria mineração, que é um setor exportador com baixo coeficiente de importação de insumos”, disse. Para ele, a corrente de comércio deverá se reduzir em função de um desaquecimento interno, que puxará para baixo as importações. “Muitos produtos da pauta de exportações podem ganhar mercado com o novo patamar cambial, enquanto as importações se reduzem pelo menor nível de atividade econômica internamente. A melhora no saldo da balança se torna uma tendência, mas é muito difícil apontar se a desvalorização do real terá peso favorável maior que os efeitos negativos da perda de valor do minério”, observou Salvato.