Satirizado pela revista britânica “The Economist” por suas previsões erradas sobre o crescimento brasileiro neste ano, o ministro Guido Mantega não perde o otimismo para 2013. E está certo, mesmo que suas previsões venham a ser novamente humilhadas pelos fatos. Como declarou há dois séculos Napoleão Bonaparte, um povo só se deixa guiar quando lhe apontam um futuro, quando tem diante de si um comerciante de esperanças.
Esse o papel que Mantega procura desempenhar, ao anunciar que colheremos em 2013 o que foi plantado neste ano, referindo-se à redução dos juros, à desvalorização do real frente ao dólar e o estímulo ao consumo, como a redução do Imposto sobre Produtos Industrializados para veículos, móveis, linha branca e material de construção.
Outras medidas se encontram na temporada de plantio, como a ampliação para outros setores da desoneração da folha de pagamentos, a redução do preço da energia elétrica, as concessões para empresas privadas de rodovias, aeroportos e ferrovias. O ministro da Fazenda afirma que o câmbio está caminhando mais naturalmente para um equilíbrio, com juros menos atrativos para o capital especulativo estrangeiro e com o Imposto sobre Operações Financeiras coibindo negócios com derivativos. Enfim, caminha-se para uma estabilidade do real favorável à indústria brasileira.
Neste cenário brilhante, uma nódoa são os preços dos combustíveis. Contidos artificialmente, como tantas vezes fizeram no passado governos preocupados com a alta da inflação, começa a se repetir uma história conhecida dos brasileiros. Gasolina, leite, carne, não importa o produto, ele escasseia quando o preço não remunera o produtor. Em Minas, como revelou este jornal na edição de sexta-feira, a gasolina começa a faltar em alguns postos.
É uma situação indesejável. Há mais de 120 anos, o secretário do Tesouro de Ohio (EUA), John Sherman, anunciou que o melhor profeta do futuro é o passado. Esse passado – o de longas filas diante dos postos de gasolina –, não pode fazer parte das previsões de Mantega para 2013. E como estamos contemplando o futuro com olhos no passado, vale o ensinamento do economista e filósofo inglês John Stuart Mill, em sua “Autobiografia”, de 1873: “Consideramos o problema social do futuro, unir a maior liberdade individual de ação à posse comum da matéria-prima do mundo e igual participação de todos nos benefícios do trabalho coletivo.” Nada parece tão atual como isso.