Antes que seja tarde no Aglomerado da Serra

Hoje em Dia
Publicado em 10/01/2014 às 06:28.Atualizado em 20/11/2021 às 15:15.

O Aglomerado da Serra, com suas oito vilas, tem 50 mil habitantes. É mais do dobro da população do bairro da Serra, seu vizinho. Se fosse município – e não a maior favela da capital – ele estaria entre os 70 mais populosos do Estado, à frente da histórica Diamantina. Como bairro, é o maior de Belo Horizonte. Por sua posição, não pode ser deixado de lado pelas autoridades e se transformar num território dominado por criminosos.

O que ocorreu ali nos últimos dias, mostrado pelo Hoje em Dia nesta quinta-feira, com traficantes ostentando poder e armas à luz do dia e com trocas de tiros no escuro das madrugadas por disputa territorial, é um aviso que não pode ser ignorado. Não se permita que o Aglomerado da Serra tenha o mesmo destino da Rocinha, no Rio de Janeiro, que, embora conte com uma Unidade de Polícia Pacificadora (UPP) desde setembro de 2012, ainda não se livrou do domínio dos criminosos.

Mostram-se tímidas as autoridades mineiras, diante do problema. Em 2011, depois de uma revolta por causa do assassinato de um homem e um adolescente, com ônibus incendiados, a Polícia Militar ocupou temporariamente o Aglomerado da Serra. Em dezembro de 2012, o secretário de Estado de Defesa Social, Rômulo Ferraz, anunciou investimentos de R$ 4 milhões para instalar ali uma UPP – mas não com esse nome carioca, e sim com o nome de Aisp, ou Área Integrada de Segurança Pública. E não há data prevista para sua inauguração.

O professor Luiz Flávio Sapori, que foi secretário-adjunto de Segurança Pública nos primeiros quatro anos e meio do governo Aécio Neves, afirmou em entrevista ao HD, do qual é articulista, que “ainda há resistência por parte do governo, até para não ter que assumir que temos que aprender com a experiência de outros estados”. Para Sapori, está na hora de se trabalhar com a ideia de ocupação do Aglomerado da Serra nos moldes do Rio de Janeiro.

É possível que, não o fazendo, antigos controladores das favelas cariocas, quando escorraçados de lá pela ação policial mais eficaz, se sintam encorajados a se mudarem para Belo Horizonte. Conforme Sapori, “efetivamente, nada foi feito na Serra para conter o problema do tráfico, que já é histórico no local”.

E não é por falta de informação. As autoridades têm conhecimento da situação. Os moradores se consideram desprotegidos em meio a confrontos entre traficantes pelo controle de territórios. “Somos reféns e vivemos com medo do que ainda está por vir”, disse uma mulher que vive há 30 anos no Aglomerado da Serra. Ela confessa ter medo, mas não vê, entre os bandidos, qualquer receio da polícia.

Conforme a PM, entre os dias 19 e 29 últimos foram registrados oito trocas de tiros, e sete moradores que não integravam os bandos em confronto foram baleados. É hora de começar a agir, antes que seja tarde. 

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