Após restauro, órgão histórico volta ser tocado no Rio

Heloisa Aruth Sturm
29/04/2013 às 19:33.
Atualizado em 21/11/2021 às 03:16

Depois de quase um século em silêncio, o órgão da Igreja de Nossa Senhora do Carmo da Antiga Sé voltou a tocar nesta segunda-feira, 29, no centro do Rio. Do instrumento original, que foi usado em todas as importantes celebrações da Família Imperial, só restava a fachada. O instrumento que silenciou nos anos 1920, deteriorado pelos cupins e por um incêndio que lhe destruiu algumas partes, começou a ser reconstruído em 2010, por uma equipe comandada pelo mestre organeiro francês Daniel Birouste.

"Essa obra de restauração do órgão da Antiga Sé se situa dentro da tradição que nós temos na França, do "compagnonnage", uma tradição antiga que começou na época da construção das catedrais góticas na Idade Média, e junta a excelência técnica com uma dimensão espiritual", disse Birouste.

A cerimônia de apresentação do instrumento contou com a participação do arcebispo do Rio, d. Orani João Tempesta. Dentre as canções apresentadas no pequeno concerto, estava "Jesus, Alegria dos Homens", do compositor alemão Johann Sebastian Bach. "Vamos voltar a ouvir esse órgão famoso, que tem um passado tão importante. Sua importância histórica volta com o poder do som, nos fazendo lembrar do belo e do sublime", disse d. Orani.

Esta é a conclusão da primeira etapa do trabalho de reconstrução do instrumento. Estão prontos 800 dos 4 mil tubos do órgão de 7 metros de altura e 15 toneladas. Até dezembro, estará terminando o processo de harmonização e afinação para que o órgão, agora completo, seja utilizado a partir de 2014 para uma temporada de concertos, sob coordenação musical do maestro Ricardo Tacuchian. As apresentações não contemplarão somente a música sacra. "A proposta é inserir o órgão da Antiga Sé no circuito internacional de concertos em órgãos", disse Marcus Paullus Passos, gestor de projetos culturais da Associação dos Amigos da Antiga Sé (Samas).

A recuperação do instrumento foi possível graças a um investimento do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), no valor de R$ 1,9 milhão. Agora, a associação iniciou uma campanha de apadrinhamento para completar a reconstrução e cobrir os custos de conservação do órgão, com pedidos de doação que variam entre R$ 1 mil e R$ 50 mil. "O processo de apadrinhamento busca garantir a manutenção pelo menos para o próximo ano. E a partir da renda gerada com os concertos programados, teremos a sustentabilidade para os anos seguintes", disse Passos.

Histórico

O órgão doado por d. João VI, em 1810, para tocar no casamento da filha Maria Teresa com o infante d. Pedro Carlos, foi usado nas coroações do próprio d. João VI e também de d. Pedro I e d. Pedro II, além de casamentos e batizados da Família Imperial. Foi naquele órgão que o padre José Maurício Nunes Garcia, mestre-de-capela da Antiga Sé, considerado o maior músico sacro brasileiro, compôs grande parte de sua obra e ensinou seus discípulos - entre eles, o compositor e maestro Francisco Manuel da Silva, criador da melodia do hino nacional.

Para Daisy Ketzer, secretária geral da Samas, o órgão não ficará restrito somente a um músico ou uma audiência específica. "Nossa proposta é abrir esse instrumento e esse espaço para grandes concertos. O pré-requisito é a qualidade. Do repertório e do artista."
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