Argentina tem "panelaço" contra presidente Kirchner

AFP
08/11/2012 às 23:47.
Atualizado em 21/11/2021 às 18:02

(Daniel Garcia/AFP)

BUENOS AIRES - Milhares de argentinos, convocados pelas redes sociais, saíram às ruas de Buenos Aires nesta quinta-feira (8) para um "panelaço" contra a insegurança, a proibição da compra de dólares, a corrupção e a reeleição para um terceiro mandato da presidente Cristina Kirchner. "Salvem a República!" - dizia um grande cartaz à frente da passeata que percorreu a avenida Santa Fé, na residencial zona norte, em direção ao tradicional Obelisco, epicentro do protesto.

"Sim a democracia, não a re-reeleição" - era o lema principal do protesto, que reuniu milhares de pessoas na capital argentina e, inclusive, diante da residência de Kirchner em Olivos, onde mais de 15 mil pessoas bateram panelas.

O protesto, divulgado principalmente pelas redes sociais e acompanhado em várias cidades do país, como Rosário, Córdoba, Mendoza e Bariloche, não teve caráter partidário ou sindical.

A multidão, salpicada de bandeiras azuis e brancas (as cores da Argentina), ocupou o Obelisco sob um grande cartaz com a frase "Chega de matar", em alusão a crescente violência criminal no país.

O protesto também invadiu a tradicional Praça de Maio, diante da Casa Rosada, sede do governo.

Outro fator de irritação e protesto foi o apagão que atingiu nas últimas horas a capital argentina e sua periferia, em meio a um calor incomum na primavera austral.

Balões azuis e brancos traziam o pedido de "Justiça independente" flutuando sobre a multidão, que interrompeu o trânsito na Avenida Corrientes, no centro de Buenos Aires. "Não gosto do autoritarismo de Cristina. Não pode fazer o que quer porque foi reeleita com 54% dos votos", disse Federico Chelli, um estudante de 20 anos.

"Estou aqui porque muitos jovens estão morrendo (nos assaltos) e porque o governo é corrupto, só fazem mentir, são ladrões com contas na Suíça", afirmou à AFP uma aposentada de 62 anos.

O protesto foi acompanhado por argentinos que vivem em Nova York, Washington, Paris, Roma, Madri, Toronto e Miami.

Em Londres, cerca de 150 argentinos repetiram o "panelaço" diante da embaixada da Argentina.  "Quero voltar, mas como a situação está agora não é possível. Está muito complicado para todos", disse à AFP Micaela, uma jovem de 29 anos que mora há três na capital britânica, onde trabalha com pesquisa de mercado.

"O mais preocupante para mim é a insegurança e a falta de liberdade. Já não há liberdade de expressão (...) e não se pode trocar dólares, as pessoas não podem poupar em dólares. Isto é uma vergonha, com um país cheio de recursos, não há explicação".

Kirchner chegou ao poder em 2007 e em 2011 foi reeleita para um segundo mandato, que concluirá em 2015. A Constituição argentina não permite uma segunda reeleição, mas setores do governo já falam em uma reforma ao estilo do presidente venezuelano, Hugo Chávez, o que é rejeitado por mais de 80% da população, segundo pesquisas.

Mas a principal preocupação dos argentinos é a violência crônica, traduzida em assaltos, e a inflação, ainda segundo as pesquisas.

As últimas pesquisas de opinião revelam uma significativa queda na aprovação de Kirchner - reeleita em outubro passado com 54% dos votos - devido ao agravamento da situação econômica na Argentina provocado pela crise internacional.

As eleições para a renovação da metade da Câmara dos Deputados e de um terço do Senado estão previstas para outubro de 2013, e segundo os analistas, dificilmente Kirchner obterá uma vitória capaz de lhe assegurar os dois terços do Congresso necessários para reformar a Constituição.

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