Arrecadação de Macacos pode minguar após evacuação por risco em barragem

Rafaela Matias
Publicado em 18/02/2019 às 20:36.Atualizado em 05/09/2021 às 16:36.
 (Restaurante Mar Mineiro/Divulgação)
(Restaurante Mar Mineiro/Divulgação)

Além do impacto social, o alerta para risco de rompimento da barragem da mina Mar Azul, da Vale, em Macacos, distrito de Nova Lima, vem tirando o sono dos empresários locais. Muito dependente do turismo ecológico e gastronômico, a região pode ter uma queda de faturamento considerável em decorrência do fechamento das estradas e do medo que afasta os visitantes.

Conforme a Abrasel-MG, o setor de alimentação e bebidas representa 40% da economia de Macacos e a arrecadação foi zero no último fim de semana, quando a Vale, em conjunto com o Corpo de Bombeiros e a Defesa Civil, decidiu evacuar a área preventivamente. Pelo menos 49 propriedades, incluindo pousadas, bares e restaurantes, foram fechadas, e três dos quatro acessos à cidade ainda estavam interditados até o início da noite dessa segunda (18). 

A pousada Maria Bonita tinha oito hóspedes no momento em que a sirene tocou, por volta das 20h da última sexta-feira. Todos precisaram sair às pressas e não tiveram tempo nem de acertar o que já tinham consumido. “Apesar de ter sido uma evacuação preventiva, acaba gerando muitos prejuízos. Me sinto lesada, acho que o meu negócio pode ser prejudicado”, afirma a proprietária, Julieta Oliveira. 

Desde a evacuação, cerca de dez reservas já foram canceladas, inclusive para o Carnaval, considerada uma das melhores épocas do ano na região. Como as diárias variam entre R$ 250 e R$ 420, o prejuízo pode chegar a R$ 4.200. 

Mesmo assim, Julieta se mantém otimista. “Acho que é temporário, a Vale já está tomando providências e vamos chegar a uma solução. Não é motivo para entrar em pânico”. 

Vicente Araújo, proprietário do restaurante Mar Mineiro, está um pouco mais preocupado. Por estar em uma região alta, o estabelecimento não precisou ser evacuado, mas apenas duas pessoas foram almoçar lá no último domingo. “O normal era termos pelo menos cem mesas”, afirma ele, que tem 22 funcionários formais e depende exclusivamente do restaurante como fonte de renda. “Se o movimento cair demais, precisarei demitir, mas pretendo pedir ajuda à Vale para evitar que isso aconteça”.

Logística

Na cervejaria São Sebastião, a logística foi prejudicada pelo fechamento das estradas. Alguns funcionários ficaram ilhados, com dificuldades de chegar ao trabalho. Por esse motivo, e também por causa da paralisação do comércio local, o faturamento deve cair pelo menos 10%. 

Para o proprietário, Augusto Franco, a falta de informação atrapalha ainda mais a vida dos empresários. “Se tivéssemos informações claras sobre a condição da barragem e os próximos passos a serem adotados poderíamos nos planejar, mas a verdade é que não sabemos nem se vai durar uma semana ou seis meses. Como podemos tomar providências?”. 

Ele ressalta ainda que a economia da cidade é baseada na arrecadação de fim de semana, por causa do turismo, o que agrava a situação.
“Macacos só existe economicamente no fim de semana e, por isso, os comerciantes trabalham no fio da navalha. Se ficam inativos no sábado e no domingo, já perdem 25% do faturamento mensal”, diz. 

Para Ricardo Rodrigues, presidente da Abrasel-MG, os impactos não são pontuais e devem se arrastar mesmo após a abertura das vias e a liberação das casas. “Mesmo que Vale consiga atestar, agora, que a barragem está segura, a imagem da cidade já foi profundamente lesada e vai levar um tempo até que o turismo seja retomado. A economia local não vai se recuperar facilmente”, afirma. 

Em nota, a Vale informou que continua dando toda a assistência e apoio às famílias de Macacos e que as questões econômicas serão tratadas no futuro. “Indenizações relacionadas à perda de renda serão acordadas entre as partes em conjunto com as autoridades, em um segundo momento”, diz o comunicado.

(Colaborou Lucas Simões)

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