As demissões na Usiminas

03/08/2016 às 08:20.
Atualizado em 15/11/2021 às 20:08

Saio, hoje, um pouco da briga acionária na Usiminas para tratar de uma questão da maior relevância para os empregados da siderúrgica: até onde irão os cortes de pessoal? Perguntei isso ontem ao presidente da empresa, Sérgio Leite, que foi bastante direto na resposta. 

Sérgio Leite foi eleito presidente em 25 de maio e está dando prosseguimento ao esforço de seu antecessor, Romel Erwin de Souza, de corte de custos, adequação da estrutura industrial à queda na demanda doméstica por aço e reestruturação financeira. E esse trabalho passa necessariamente pelas demissões.

Ele disse que na usina de Cubatão (interior de São Paulo), onde já foram demitidos quase 2 mil trabalhadores, os cortes continuarão, mas em ritmo lento. A ideia é reduzir o quadro dos atuais 2,3 mil empregados para cerca de 1.800, o que significa que mais 500 demissões virão. Porém, conforme acordo firmado com o sindicato local dos metalúrgicos e o Ministério Público, que acusavam a Usiminas de praticar demissões em massa, de agora em diante os cortes estarão limitados a 1,6% do quadro de pessoal por mês, o que equivale a cerca de 30 trabalhadores demitidos mensalmente.

As demissões são consequência da adequação radical da base produtiva de Cubatão à queda nas vendas. A Usiminas fechou no início do ano toda a área primária da usina de Cubatão (sinterização, coqueria, altos-fornos e aciaria), ou seja, toda a estrutura que vai da preparação das matérias-primas até a obtenção de placas de aço. Atualmente, a usina compra placas da Companhia Siderúrgica do Atlântico (CSA), da ThyssenKrupp, e opera apenas com laminação. Em junho, aconteceu o último grande corte de pessoal, de 271 trabalhadores. A partir de agora, as demissões acompanharão o ajuste fino da usina de Cubatão ao novo modelo de negócios restrito à laminação.

Ipatinga

Vamos, então, às operações de Ipatinga, que nos interessa mais proximamente. Segundo Sérgio Leite, também em Ipatinga será necessária uma adequação de pessoal à nova realidade de mercado, já que a usina, que já chegou a produzir 9 milhões de toneladas de aço por ano, hoje opera a um ritmo de 4 milhões de toneladas. Mas os cortes serão realizados entre gerentes e nas áreas administrativas. O número de operadores já estaria ajustado à produção. Em junho do ano passado, cerca de 400 metalúrgicos já tinham sido demitidos quando do desligamento de um dos altos-fornos de Ipatinga.

Sérgio Leite não disse quantos gerentes e profissionais administrativos serão demitidos, mas informou que o objetivo é cortar algo entre 20% e 25% dos custos com mão de obra gerencial. O projeto da nova estrutura gerencial da Usiminas, preparado por um grupo anticrise batizado de Grupo dos 10, foi aprovado na segunda-feira pela Diretoria Executiva da empresa e as saídas de gerentes deverão acontecer neste e no próximo mês.

Esse esforço da Usiminas em enxugar o quadro de pessoal é a parte mais importante, mas não a única de corte de custos e reorganização financeira. Todos os contratos de compra de materiais e serviços, por exemplo, estão sendo renegociados.

Amanhã voltaremos ao assunto, mas desta vez abordando a estratégia da empresa para voltar a gerar um caixa consistente e retornar ao lucro. Se hoje falamos de demissões, amanhã abordaremos a crise e a perspectiva de retomada do setor siderúrgico, comportamento dos preços, renegociação das dívidas da empresa e a possibilidade de que o mandato de Sérgio Leite seja cassado na Justiça (sua eleição é questionada judicialmente pela Nippon Steel, um dos sócios controladores da Usiminas).

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