Aumenta a população brasileira na extrema pobreza, e cenário pode piorar

Tatiana Lagôa e Janaína Oliveira
primeiroplano@hojeemdia.com.br
03/12/2016 às 06:00.
Atualizado em 15/11/2021 às 21:55

O achatamento da renda dos brasileiros, provocado pela crise econômica, agrava uma situação já dramática e faz aumentar o número de pessoas em estado de extrema pobreza no país. Dados do IBGE mostram que, se em 2014 este grupo representava 7,9% da população, em 2015, o percentual passou para 9,2%. O cenário poderá piorar ainda mais nos próximos anos com a política fiscal adotada pelo governo Temer, apontam especialistas.

De acordo com o levantamento divulgado ontem pela instituição, 17,8% da população ganhava até meio salário em 2015 e outros 30,3% ficavam na faixa de renda entre meio e um salário. Em síntese, 57,3% dos brasileiros ganham até um salário mínimo que, no ano passado, estava em R$ 788. O rendimento médio no país caiu 7,16% neste período, passando de R$ 1.368 para R$ 1.270. Esse é o menor valor desde 2011.

“Vivemos o reflexo do aumento do desemprego conjugado com a queda na renda. A pobreza é agravada porque quem sofre mais na crise são os trabalhadores menos qualificados e de baixa renda”, explica o vice-presidente do Conselho Regional de Economia de Minas Gerais (Corecon-MG), Pedro Paulo Pettersen.

Futuro

Especialistas defendem que o desmonte no Bolsa Família, aliado aos efeitos da PEC 55 – que limita os gastos do poder público pelos próximos 20 anos – no salário mínimo poderá empurrar os mais pobres para a miséria. Desde que o peemedebista assumiu a Presidência, 1,123 milhão de cadastros do programa assistencial foram cancelados ou bloqueados (dado de 7 de novembro de 2016).

“O governo propõe fazer o contrário do que seria certo neste momento recessivo. Com mais pessoas sofrendo as consequências da crise, é preciso que haja um aumento do assistencialismo”, observa a coordenadora do Centro de Capacitação e Pesquisa em Projetos Sociais da UFMG, Danielle Cireno Fernandes. 

A socióloga explica que, mais do que um programa assistencial, o Bolsa Família ajuda a girar a economia, com a inclusão de brasileiros no universo do consumo. Dessa forma, há um fomento às vendas e, consequentemente, geração de empregos no comércio e na indústria. 

Para Pedro Paulo Pettersen, “a PEC dos Gastos vai afetar diretamente a baixa renda porque, se o salário mínimo não subir na mesma proporção que subia antes, haverá agravamento da desigualdade social”.

“Acho que o governo tem um grande problema para resolver. De um lado, precisa mesmo cortar gastos. De outro, precisa fazer de uma forma que não afete o salário mínimo para que os mais pobres não sofram”Mauro RochlinProfessor de economia Fundação Getúlio Vargas

Realidade

Os números do IBGE reforçam o que já sofrem, na prática, brasileiros como José Félix da Silva, de 65 anos. A aposentadoria que ele recebe, de R$ 880, mal dá para o básico. “Pelo menos fome não passo, mas está cada dia mais difícil sobreviver. Um pacote de açúcar está custando R$ 12. Essa crise pegou a gente de jeito”, diz ele, que criou 15 filhos trabalhando como pedreiro.

Moradora da ocupação Rosa Leão, na divisa de BH e Santa Luzia, a dona de casa Liergy de Oliveira Silva, de 21 anos, sonha em ter o básico. “O que eu queria mesmo era asfalto na rua e piso no chão da minha casa”, conta. O marido dela está desempregado. “O Bolsa Família seria a salvação, mas a gente não consegue porque mora na ocupação”, lamenta.

 Editoria de Arte/Hoje em Dia / N/A

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