Bairrismo paulista

23/08/2017 às 00:01.
Atualizado em 15/11/2021 às 10:12

Sim. Alguém resolveu colocar o dedo na ferida. Quis o destino que isso fosse obra de um paulista, já que o assunto por décadas fica só no campo dos pequenos recados dados por um aqui outro acolá.

O técnico Vágner Mancini se irritou com a pergunta quase afirmativa de um repórter de São Paulo que quis contestar o resultado obtido pelo Vitória em cima do Corinthians, tirando a invencibilidade do time paulista.

Disse Vágner ao repórter bairrista: “Eu estou contestando sua visão de jogo. Você está sendo parcial. Você, como jornalista, deveria ser imparcial. Vou terminar a entrevista agora porque você tem que rever seus conceitos. Vocês não podem, de maneira alguma, falar que o Corinthians hoje fez uma má partida porque o Corinthians fez um grande jogo e perdeu para uma equipe que jogou, que estudou, que foi estratégica, e que veio aqui em São Paulo e tirou a invencibilidade. Vocês têm que dar um pouquinho de valor a quem é de fora de São Paulo. Eu sou paulista, nascido em Ribeirão Preto, e vocês da imprensa de São Paulo têm que olhar um pouquinho diferente para todo mundo porque o Brasil é muito grande”.

Gente, ele está certo. Todos sabemos disso. Poucos de nós nos atrevemos a afirmar. Por que é fato notório que há séculos a imprensa paulista e carioca vendem a idéia de que futebol só existe nestes dois estados. Nada contra paulistas e cariocas, torcedores como nós de seus clubes.

Mas, a formação dos profissionais de imprensa, que aprenderam desde cedo, muito por causa dos grandes narradores das emissoras de rádio de SP e RJ, a endeusar o futebol destes dois grandes estados e a pensar apenas na aldeia deles para girar em torno do assunto, precisa mudar. Sem falar que na verdade está tudo globalizado.

Não há mais a idéia de concentração de cultura. Talvez a concentração de riqueza ou a econômica ainda impere por algum tempo mas a tendência é que isso deixe de existir.

Sendo assim, não se pode viver o futebol de apenas dois estados.

O Estado com a maior economia do país é São Paulo (32,6%), mas não estamos falando de economia. Estamos falando de futebol e aí a coisa pode mudar rapidamente, sem maiores delongas.

No que diz respeito ao futebol, é necessário ter muita cautela no jornalismo. Por isso opto por não sair por aí decantando em prosa e verso meu time do coração. Não escondo, mas não preciso declarar que ele é o melhor time do mundo quando ele não for.

Isso é honestidade com o torcedor e com aquele que acompanha seu trabalho seja por meio do rádio, jornal ou da TV.

Acima de tudo, isso gera credibilidade.

Foi esse tal crédito que o repórter perdeu com o Vágner Mancini.

Quis ser diferente, acintoso e daí virou motivo de piada.

Virou também motivo de análise de toda a imprensa brasileira se já não passou da hora de mudar esta postura infantil e arcaica de querer endeusar as equipes de futebol de São Paulo ou Rio de Janeiro.

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