Um espetáculo de dança do Ballet Stagium, feito para homenagear os maiores artistas modernistas do País, não fará mais nenhuma referência às obras da pintora paulista Tarsila do Amaral (1886-1973). A decisão foi tomada pela coreógrafa Marika Gidali, responsável pelo Stagium, depois que um representante dos herdeiros de Tarsila pediu que o espetáculo pagasse pelo uso da obra "Abaporu", de 1928, que aparecia em forma de um grande boneco por cerca de um minuto e trinta segundos no início da montagem, batizada por Marika de "A Semana noventa@vinteedois".
As partes começaram uma negociação que levou algumas semanas. De uma proposta financeira considerada alta pelo espetáculo (acima de R$ 50 mil no total, segundo fontes) o valor foi baixando até que se fechasse um acordo (ninguém quis revelar a quantia exata). Marika pagou pelo uso da figura do Abaporu calculado desde a estreia da montagem, em meados do ano passado, até a reestreia deste ano. E resolveu retirá-lo de cena. "Pagamos pelo tempo de uso e vamos retirar, é uma pena", disse a coreógrafa.
Raquel Lemos, advogada de Marika, diz que, depois de negociar valores para a liberação da obra, não houve mais clima para o uso da imagem. "Sentimos um mal estar grande, mesmo depois de pagarmos por ela. Estamos chateados." Ela diz ainda que havia argumentos legais para a permanência da imagem, já que o espetáculo não era sobre Tarsila nem sobre o Abaporu. "Em um espetáculo de quase duas horas, ele aparecia por pouco mais de um minuto."
O representante dos herdeiros de Tarsila, Paulo Ferreira, não quis falar com a reportagem sobre o assunto. Antes que o repórter fizesse a pergunta, por telefone, ele interrompeu: "Eu não vou falar sobre isso com você, me desculpe. Esse era um caso que não gostaríamos de tratar na imprensa, foi algum linguarudo que deve ter contado a você. Respeito o Ballet Stagium e não vou comentar, não vou ganhar nada com isso." As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.