Samuel Nunes
Repórter

Há exatos 8 dias, da tribuna da Câmara Municipal, o vereador pelo PTB Cláudio Prates, revelou que está acometido de um câncer. Diversas manifestações surgiram nas redes sociais. Nesta entrevista ao O Norte, ele fala como descobriu a doença e como passou a enxergar a vida.





 



 
 

Quando e como descobriu que estava com câncer?

Descobri por uma providência de Deus (é assim que considero), quando, há um mês atrás precisei fazer uma cirurgia de joelho, uma artroscopia (procedimento cirúrgico simples para corrigir uma pequena lesão de menisco), que você sai do hospital no mesmo dia. O médico me solicitou uma avaliação cardiológica para o risco cirúrgico (já que se toma anestesia) e o cardiologista me solicitou um raio X do tórax.

Ao analisar o exame, o médico cardiologista viu uma pequena mancha na região do tórax, próximo ao mediastino e solicitou que, após a cirurgia, eu fizesse uma tomografia do tórax para verificar do que se tratava e me prescreveu o exame. Alguns dias após a cirurgia de joelho, já me recuperando através da fisioterapia, fiz a tomografia, cujo resultado saiu no último dia 20 de maio. Foi constata a presença de linfonodos e uma massa volumosa dos mesmos, sugerindo doença linfoproliferativa (câncer). A biopsia, que fiz no dia seguinte, constatou se tratar de um tumor cancerígeno denominado linfoma de Hodking, na região do mediastino. O estágio da doença, numa escala de 01 a 04 é o estágio 02, fase inicial.

Qual foi inicialmente a sua reação e da família diante dessa notícia?

A reação inicialmente é um grande baque. O chão se abre. Você se depara com a possibilidade do fim, da morte. O primeiro pensamento que me veio foi a família, sobretudo os filhos. Tenho três filhos: um adolescente de 13, uma filha de 09 anos e um filho de 04 anos de idade. Passado o susto inicial, fui tomado por uma confiança total em Deus. Senti que Ele estava no controle de tudo, a começar da maneira providencial como tomei conhecimento da enfermidade. Ou seja, Deus queria que eu soubesse e, se Ele me fez tomar conhecimento daquela maneira é porque Ele tinha planos de me curar. Creio nisso.

Minha família reagiu também com um choque, inicialmente, mas, depois, penso que contagiei a todos com minha fé e a confiança em Deus, da qual estava tomado.

Lembro que dei a notícia para meus pais e meus irmãos da seguinte maneira:

“Tenho duas notícias, uma boa e uma ruim. Qual querem ouvir primeiro? Eles disseram: a boa. Então eu disse: A boa é que vou ficar curado e tudo vai ficar bem. Curado de quê? Perguntaram. Então, eu disse: essa é a notícia ruim: de um linfoma, um câncer no peito.

Outro fato que consolou minha família é que há doze anos atrás, um dos meus irmãos, o Márcio, foi acometido deste mesmo linfoma, no mesmo local e está completamente curado, graças a Deus. Este histórico anima, enche de esperança a todos nós.

Como foi anunciar da tribuna da Câmara Municipal que está com câncer?

Eu somente anunciei da Tribuna por respeito ao meu eleitorado, aos demais vereadores e à população de Montes Claros. Não poderia me esconder, como fazem alguns, com total direito. Mas no meu caso, em breve eu não conseguiria esconder. Provavelmente, meus cabelos (os que ainda me restam) vão cair e os sinais da quimioterapia vão aparecer. Antes que começassem especulações, decidi vir a público anunciar a enfermidade, com a verdade, e fazer dela mais uma bandeira em luta pela saúde da população, inclusive para prevenção ao câncer, sobretudo nos homens, que não se cuidam e não se previnem.

Descreva como foi sair de casa no primeiro dia para iniciar o tratamento feito através de quimioterapia

Não parei um minuto com minha rotina normal, até o dia da quimioterapia. Fui trabalhar normalmente na Polícia Federal; também cumpri agenda na Câmara Municipal e às 14 horas fui para a Oncovida, onde recebi os medicamentos da quimioterapia até as 18:30 horas. De lá saí e fui direto ministrar uma palestra para cerca de duzentos pais e professores do Cemei Amiguinhos da Vila. Desde a quimioterapia, graças a Deus não senti nenhum efeito colateral do tratamento.

Você descarta se afastar temporariamente da carreira politica para cuidar da sua saúde?

Nem de longe passa pela minha cabeça afastar-me do meu mandato e do meu trabalho na Polícia Federal. Depois de conversar com os médicos que me acompanham, os mesmos me garantiram que, sem comprometer meu tratamento, tenho plenas condições de desempenhar todas as atividades que realizo, além da política e da PF, pretendo continuar com as palestras e com o teatro. Se Deus quiser, vencerei esta batalha de seis meses, sem afastar das minhas atividades.

Para concluir, quais as lições que você já conseguiu tirar dessa experiência com a doença e como tem sido seu dia a dia?

Dentre tantas lições que a descoberta de uma enfermidade como esta nos possibilita, uma delas é constatar, de fato, que apesar de todos nós ouvirmos e falarmos o tempo todo e sabermos que a vida é passageira, que precisamos viver cada dia como se fosse o último, de que é preciso amar as pessoas como se não houvesse o amanhã, um diagnóstico deste nos faz repensar nossa história, o que fizemos e o que fazemos da nossa vida.

Faz-nos perceber como perdemos tempo com coisas inúteis, discussões inúteis, deixando de lado o essencial. Hoje, sem dúvidas, já me sinto uma pessoa mais livre, mais desapegado deste mundo. Continuarei sim a fazer planos para o futuro, mas meu foco será viver o presente, valorizando o dia e as pessoas. Adotei como lema, os versos do poeta: Hoje me sinto mais forte, mais feliz, quem sabe só levo a certeza de que muito pouco sei, o ou nada sei...e que cada um compõe a sua história e cada ser em si carrega o dom de ser capaz...de ser feliz... Depois dessa, vou viver a vida, não tenho dúvida, de forma mais livre, leve e mais intensa.

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