Berlim votará gestão pública de energia e cidadãos poderão assumir o controle

Cinthya Oliveira* - Hoje em Dia
Publicado em 12/05/2013 às 10:15.Atualizado em 21/11/2021 às 03:36.

BERLIM – Cansados do alto preço da energia elétrica produzida por empresas privadas, os cidadãos berlinenses decidiram se mover em nome da sustentabilidade.

Desde fevereiro, um grupo de ativistas (autointitulado Berliner Energietisch, formado por 54 organizações não governamentais) recolhe assinaturas para exigir do Parlamento um referendo em que a população da capital alemã decidirá se quer que a gestão da produção de energia na cidade seja transferida para uma entidade pública. A votação popular deve acontecer em setembro.

Cerca de 15 mil ativistas estão nas ruas tentando angariar assinaturas. Cada berlinense que adere ao movimento em nome do referendo deve inserir no papel nome, endereço, número da identidade e assinatura. Até o momento, metade da meta foi alcançada.

A um brasileiro é um pouco complicado compreender o que os berlinenses desejam. Não se trata de uma estatização da produção e distribuição da energia, já que na Alemanha há uma diferenciação entre o que é público e o que é estatal. Se tudo ocorrer como planejado, o povo será o dono da energia, não o Estado. O objetivo, além de baixar preços, é reduzir o volume de energia produzido em usinas termoelétricas.

Donos

Se a maioria disser “sim”, os berlinenses poderão se sentir donos da produção, da distribuição e da definição das políticas para o setor elétrico da cidade. A idéia central é buscar fontes de energia limpas de diferentes naturezas – em especial, a energia solar, a partir de placas colocadas em todos os telhados das casas, e a utilização de biomassa. A administração ficaria a cargo de uma empresa comandada por um conselho formado de cidadãos.

Os ativistas têm quatro meses para recolher 200 mil assinaturas e o prazo se encerra em junho. Segundo Stefan Taschner, um dos líderes do movimento, a intenção do movimento não é apenas tornar pública a produção (hoje nas mãos de uma empresa sueca), mas também trabalhar a educação dos cidadãos sobre uso consciente. Incentivar a troca de geladeiras e velhos eletrodomésticos por novos e mais econômicos é uma das estratégias.
“Queremos uma energia ecológica, democrática e social. Sabemos que 70% da energia consumida em Berlim poderia vir de placas solares”, disse.

Administração pela sociedade é realidade em outras cidades

Outras cidades na Alemanha e em outros países (como Sacramento, nos Estados Unidos) já tornaram públicas a produção e distribuição de energia e são exemplos para o movimento em Berlim.

“Sabemos que cada cidade tem uma realidade e a sustentabilidade deve ser pensada para cada lugar. Nosso trabalho não acaba com a realização do referendo. Teremos muito trabalho nos próximos anos”, diz Taschner.

O ativista espera que, em 2050, mais de 80% da produção de energia na Alemanha seja de fontes ecologicamente sustentáveis.

Esse é o segundo movimento em Berlim para tirar bens públicos das mãos de empresas privadas.

Há pouco tempo, em um referendo, Berlim decidiu que a distribuição de água deveria ser pública. Porém, o processo ainda não saiu do papel porque duas empresas detêm propriedade sobre a rede de água e esgoto. Para que os berlinenses sejam donos de sua água, precisam comprar as duas empresas. “Não podemos deixar tudo nas mãos dos políticos”, explica Taschner.


*A repórter viajou a convite do Ministério das Relações Exteriores da Alemanha

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