A americana Boeing vai assumir o controle das atividades civis da brasileira Embraer, com a formação de uma joint venture avaliada em 4,75 bilhões de dólares, que vai lhe permitir concorrer com a europeia Airbus no setor de aeronaves regionais.
O novo grupo, de capital fechado, será controlado em 80% pela Boeing, e os 20% restantes ficarão com a Embraer.
O grupo americano vai gerenciar as "atividades da Embraer no setor da aviação comercial e de serviços", indica um comunicado conjunto dos novos sócios.
O acordo final será submetido à aprovação do governo brasileiro - que dispõe de uma "golden share", a qual dá poder de veto a Brasília em questões estratégicas da Embraer.
As duas empresas "vão se posicionar para oferecer um portfólio completo de aviões comerciais altamente complementar (de 70 a mais de 450 assentos)", segundo o comunicado conjunto divulgado.
A transação, que acontece depois de inúmeras especulações, vai permitir à Boeing completar seu portfólio com aparelhos com uma capacidade de até 150 assentos.
O protocolo de acordo foi anunciado nesta quinta-feira (5), poucos dias depois de a Airbus selar uma aliança com a canadense Bombardier para fabricar aviões de médio alcance C Series, concorrentes da Embraer.
A sede da empresa ficará nas instalações da Embraer em São José dos Campos, São Paulo, mas "o controle operacional e de gestão da nova empresa" estará sob supervisão direta do CEO da Boeing, Dennis Muilenburg, afirma o texto.
"A combinação de negócios com a Boeing deverá gerar um novo ciclo virtuoso para a indústria aeroespacial brasileira, com maior potencial de vendas, aumento de produção, geração de emprego e renda, investimentos e exportações, agregando maior valor para clientes, acionistas e empregados", garantiu o presidente da Embraer, Paulo Cesar de Souza e Silva, em nota.
A expectativa é que a associação seja contabilizada a partir do começo de 2020 no capital da Boeing.
Os mercados tinham festejado com forte alta nos últimos meses a perspectiva de aproximação entre a Boeing e a Embraer, mas recebem o anúncio desta quinta-feira com péssimo humor: pouco depois de meio-dia, as ações da brasileira na Bovespa caíam mais de 15%.
De acordo com Jason Vieira, da consultoria Infinity Assets, esse recuo pode ser motivado por uma realização de lucros, mas também por uma avaliação um pouco pior que o esperado da nova aliança.
Em Nova York, as ações da Boeing abriram em alta de 0,26%.
Promoção do avião militar KC-390
A área de defesa e de aviação executiva da Embraer não fará parte do novo grupo.
Mas as duas empresas criarão uma segunda estrutura conjunta "para promover produtos e serviços de defesa, em especial o avião multimissão KC-390" da Embraer, indica o documento.
O acordo permite à Boeing se posicionar frente a seu grande concorrente, a europeia Airbus, que recentemente se aliou à canadense Bombardier, competidora direta da Embraer, na batalha pela conquista dos céus em um momento em que surgem novos atores nesse mercado.
A Embraer é a terceira fabricante aeronáutica mundial, com um volume de negócios de 6 bilhões de dólares e 16.000 empregados.
Privatizada em 1994, é uma das joias da indústria brasileira, com uma gama de aviões civis, militares e também jatos executivos.
A Boeing, gigante aeroespacial dos Estados Unidos, reportou lucros de 2,5 bilhões de dólares no primeiro trimestre do ano, 56,9% a mais do que no mesmo período de 2017. A receita subiu 6,5%, a 23,4 bilhões, no período.