Bulgária: conservadores vencem legislativas mas não conseguem maioria

AFP
Publicado em 12/05/2013 às 23:13.Atualizado em 21/11/2021 às 03:37.

O partido conservador búlgaro Gerb, do ex-primeiro-ministro Boiko Borissov, obrigado a renunciar em fevereiro, sob a pressão de manifestações, venceu neste domingo (12) as eleições legislativas antecipadas, mas sem conseguir a maioria absoluta. O partido de Borissov obteve entre 29,6% e 32% dos votos, enquanto seu principal rival, o Partido Socialista (PSB, ex-comunista), conseguiu entre 25,6% e 26,2%, de acordo com cinco pesquisas. Esta é a primeira vez na Bulgária desde a queda do regime comunista, há 23 anos, que um partido é reeleito.

Se a leve vantagem for confirmada, os conservadores não terão conseguido a maioria no Parlamento, e enfrentarão dificuldades para formar um governo, já que as possibilidades de coalizão são limitadas.
A comissão eleitoral anunciará os resultados parciais na manhã desta segunda-feira.
 
Os outros dois partidos que superaram os 4% necessários para ter representação no Parlamento, de 240 assentos, foram o Movimento pelos Direitos e Liberdades (MDL, minoria muçulmana turca), que obteve entre 9,9% e 13,4% dos votos, e o partido nacionalista e xenófobo Ataka, que conseguiu entre 7,3% e 8,5%, segundo as pesquisas. 
 
O Ataka apoiou por um tempo Boiko Borissov, após a formação de um governo minoritário em 2009, mas neste domingo seu líder, Volen Siderov, descartou esta opção. Por outro lado, uma coalizão entre dois inimigos jurados, o Gerb e os socialistas, é pouco provável. "A Bulgária precisa de estabilidade, e, se os partidos são responsáveis, deveriam apoiar um gabinete minoritário", disse o ex-ministro do Interior Tsvetan Tsvetanov.
 
"Há um grande risco de paralisação do Parlamento", alertou Ognian Mintchev, diretor do Instituto de Estudos Regionais e Internacionais. 
 
"Amanhã, saberemos com mais exatidão, depois da contagem dos votos dos búlgaros que vivem no exterior, que partido ficará em quinto lugar. Os principais partidos da oposição - PSB e MDL - poderiam obter, juntos, menos de 120 votos, ou mais, e isso mudaria tudo", assinalou Andrey Raytchev, do instituto Gallup.
 
Os socialistas e o MDL governaram juntos de 2005 a 2009, sob a direção de Serguei Stanichev, líder do PSB. A campanha eleitoral, longe de atender às expectativas da população, concentrou-se em um ajuste de contas entre socialistas e conservadores motivado por um escândalo de escutas ilegais.
 
A decepção da população se traduziu em uma queda inesperada de sua participação. Cerca de 50% dos 6,9 milhões de eleitores votaram, segundo as pesquisas, contra 60,2% há quatro anos.
 
Se, após as eleições, nenhum governo for formado, o gabinete interino, dirigido pelo diplomata Marin Raykov, permanecerá no poder até a organização de novas eleições, no outono boreal, um cenário citado por cientistas políticos em Sófia, que agravaria a situação econômica do país, onde o crescimento foi de 0,8% no ano passado, e uma em cada cinco pessoas está desempregada, segundo cifras extraoficiais. 
 
Alguns não descartam a possibilidade de uma nova crise social, como a do inverno passado, em que milhares de búlgaros foram às ruas protestar contra o aumento da conta de luz, que dobrou em janeiro. Um golpe em um país onde o salário médio é inferior a 400 euros.
 
O movimento espontâneo se transformou, sob a influência de múltiplos grupos da sociedade civil, em uma ampla mobilização contra a miséria crônica (a Bulgária é o membro mais pobre da União Europeia), o desemprego e a corrupção que afeta a classe política e as instituições do país. O desespero levou sete pessoas a atear fogo ao próprio corpo, um fato sem precedentes na Bulgária. Seis delas morreram.
 
A demissão do governo levou à realização de eleições dois meses antes da data prevista, o que impediu que os grupos civis se organizassem em um movimento político e levou a população à escolher entre partidos contra os quais protestou.
 
A apreensão, neste sábado, de 350 mil cédulas eleitorais suspeitas em um local responsável por imprimir as cédulas das eleições provocou um escândalo e avivou a tensão. Os adversários políticos do Gerb suspeitam de seu envolvimento no caso, o que o partido conservador desmentiu, alegando um complô político. Os opositores do Gerb exigiram que o instituto austríaco Sora realize uma apuração paralela.
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