Valéria Esteves
Colaboração para O NORTE
Cafeicultores temem ser prejudicados tanto pelas chuvas de granizo, quanto pela atual crise e possível recessão do dólar. Minas Gerais é o maior produtor brasileiro de café e quer se consolidar como referência nacional e internacional na geração de inovações e oportunidades de negócios no setor. Para isso, foi lançado, na Ufla- Universidade Federal de Lavras, no Sul de Minas, o PEC- Plano de Negócios do Pólo de Excelência do Café. O documento busca condições para o desenvolvimento competitivo e sustentável do produto no Estado.
O PEC, da Sectes- secretaria de Estado de Ciência, Tecnologia e Ensino Superior e que tem parceria da Seapa- secretaria de Estado da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, foi lançado em junho de 2007, pelo governador Aécio Neves, durante a Expocafé, em Três Pontas. O Pólo está sediado no campus da Ufla, em Lavras.
Para chegar ao Plano de Negócios, foram realizadas entrevistas com o comitê gestor do Pólo e outros levantamentos de dados. O documento orientador traz diagnóstico e projetos estruturantes que aliam pesquisa, alinhamento estratégico, tecnologia, capacitação de recursos humanos e negócios.
Segundo o secretário de Ciência, Tecnologia e Ensino Superior, Alberto Duque Portugal, vivemos em uma sociedade da informação e o diferencial é incorporar conhecimento, via inovação, na cadeia produtiva. - O PEC é um programa de desenvolvimento, com a visão de consolidar e posicionar como agente dinâmico. É preciso conhecimento, através de integração,não só de tecnologia, mas de modelo de gestão, por exemplo. É nessa lógica que foi feita a proposta do Pólo, ou seja, usar a competência instalada na região para beneficiar todo o agronegócio do café. O governo de Minas está consciente de que é preciso transformar Minas Gerais em estado líder na economia e, para isso, existem vários projetos, entre eles o Pólo de Excelência do Café, afirmou.
Mas a coisa não anda como os cafeicultores esperavam. Conforme nota publicada pelo diário do comércio, a crise econômica somado aos altos custos de produção, deve fazer com que a cafeicultura no Estado, maior produtor brasileiro com 51% da safra deste ano, perca áreas de plantação. A estimativa é de especialistas que revelaram que os prejuízos dos produtores neste ano devem trazer redução da safra em 2009.
PÓLO DE EXCELÊNCIA
O gerente do Pólo de Excelência do Café, sediado em Lavras (Sul de Minas), Ednaldo José
Abrahão, informou que a falta de liquidez internacional só veio agravar o cenário para a cafeicultura, que já passava por um momento difícil, com custos de produção superiores à cotação do café. Além de ter elevação entre 60% e 70% só com os insumos, principalmente adubos, nos últimos 12 meses, o produtor também teve os custos com mão-de-obra, que chegam a responder por 50% dos custos de produção em cada saca, muito elevados nos últimos anos. Abrahão disse que até a valorização do dólar, que contribuiria para elevar a cotação do café, veio em um momento de crise no mercado internacional. - Com a desaceleração da economia mundial, queda da demanda, há redução nos preços das commodities e continua sendo um desestímulo produzir café, avaliou.
Expectativa- Segundo o gerente, para 2009, a expectativa é ainda pior. O produtor que já vinha tendo prejuízos deve reduzir a área plantada e até mesmo abandonar algumas terras.
Assim, para o ano que vem o país não deve conseguir atender a demanda interna somada à externa e deve abrir frente para que outros países ampliem a produção de café, analisou.
O diretor do Cecafé- Conselho Exportador de Café, Guilherme Braga, informou que o mercado exportador está praticamente paralisado. - Com restrições de crédito, ausência de referências no mercado e também de compradores, não há como completar as negociações, tamanha é a insegurança no mercado internacional, revelou.
Braga informou que apesar de ainda contar com contratos, que normalmente são firmados com prazos de antecedência que variam entre 90 e 120 dias, que devem vigorar até dezembro, novos acordos não estão sendo realizados, o que deve comprometer os negócios em 2009.
Além dos preços dos insumos, a cafeicultura também teve problemas com os custos da mão de- obra.O diretor do Cecafé informou que o preço da libra/peso do café no mercado internacional caiu de US$ 1,38 para US$ 1,15 nos últimos dez dias. Cada saca de café tem 132 libras/peso.
- Mesmo com os bons fundamentos do café o momento de incertezas se reflete sobre os negócios, observou. Além disso, ele destacou a ampliação dos juros sobre os financiamentos para os exportadores, em sua maioria composto pelos ACCs- Adiantamentos de Contrato de Câmbio, que subiram, nos últimos meses, de 6% para 15% ao ano.
O superintendente comercial da Cooxupé, Lúcio Dias, ressaltou que, apesar de contar com reservas e linhas específicas de crédito, os negócios estão sendo influenciados pela crise.
- Os custos de produção estão muito altos e os juros dos financiamentos também, o que se reflete de forma negativa sobre as vendas, explicou. (com agências)