Campanha política deste ano muda cores e suprime símbolos tradicionais de legendas

Tatiana Lagôa
tlagoa@hojeemdia.com.br
30/08/2016 às 06:00.
Atualizado em 15/11/2021 às 20:36
 (Reprodução Facebook)

(Reprodução Facebook)

Em um contexto de ânimos acirrados na política, alguns candidatos em Belo Horizonte optaram por “camuflar” as próprias origens. Eleitores não vão conseguir identificar facilmente partidos tradicionais pelas cores e símbolos que sempre os representaram. 

O PT, por exemplo, abandonou o vermelho e até mesmo a estrela na campanha de Reginaldo Lopes. Todo o material de divulgação dele foi feito em um misto de cores que inclui roxo, verde, rosa e amarelo. Vermelho, mesmo, só discretamente, compondo uma parte do desenho. 

Apesar de integrantes do movimento pró-impeachment de Dilma terem lançado uma campanha contra a cor símbolo do PT, hostilizando e em alguns casos até agredindo quem usava roupas vermelhas, Reginaldo nega qualquer ligação entre os fatos.

“As novas cores são mais ousadas no contexto em que estamos tentando inventar um novo modelo de democracia”, afirma. 

Ruptura

Para o candidato, o PT precisa criar outro conceito, não por causa de rejeição, mas para romper com a “velha política”. A justificativa combina com o tom da campanha dele, em uma coligação nomeada de “Porque estamos no século 21”. 

O PSDB também inovou. Apesar de o candidato João Leite ter mantido o azul e o amarelo que sempre definiram o partido, ele suprimiu o tucano, símbolo da legenda.

Segundo a assessoria de imprensa, a ave não está sendo usada por causa da coligação, que tem Ronaldo Gontijo (PPS) como vice. O símbolo representaria somente o PSDB.

“Eles têm que assumir os partidos, porque nós temos o direito de escolher o que é melhor. Não dá para nos enganar”Valéria de Rezende - Aposentada

‘Disfarces’ visam identificação com os padrinhos políticos

A mudança na identidade visual não acontece apenas entre os dois partidos que costumam polarizar a disputa na cidade. Além de PT e PSDB, também estão “disfarçados” PMDB e PSD. Nesses casos, porém, o esperado é a identificação com padrinhos políticos. 

O PMDB do presidente interino Michel Temer, por exemplo, substituiu em Minas o misto de vermelho e preto da sigla por verde e roxo, cores adotadas pelo candidato Rodrigo Pacheco. Ele afirma que a opção foi para igualar com o verde já adotado nacionalmente. 

Intencional

O PSD, que concorre à prefeitura de BH com o atual vice-prefeito, Délio Malheiros, também surpreendeu: abandonou as cores azul, verde e amarelo, antes usadas nas letras do partido.

A peça publicitária está em laranja, mesmo tom utilizado pelo atual prefeito, Marcio Lacerda, nas eleições passadas. A cor tem mais identificação com o partido de Marcio, o PSB. 

“Acho essa mudança natural, já que o Brasil não tem definição de esquerda e direita. Mas não acho positiva”Graziele Moreira - Estudante

Segundo Délio Malheiros, a mudança foi intencional, já que um dos pilares da campanha é a continuidade da gestão. O objetivo era deixar isso bem marcado. “Fizemos uma campanha diferente, com cores mais alegres”, afirma. 

Para o presidente da Associação Brasileira dos Consultores Políticos, Carlos Manhanelli, as mudanças talvez nem sejam tão notadas pelos eleitores. 

“O Brasil é um país sem ideologia partidária. Quem se preocupa com os símbolos dos partidos é a militância, e esse já é voto garantido”, aponta. 

Além Disso

Uma pesquisa realizada pela Associação Brasileira dos Consultores Políticos (ABCOP) em 40 cidades mostrou que, em todas, existem eleitores com aversão aos políticos do PT por causa dos recentes escândalos políticos.

“É a primeira vez que vejo um partido influenciar negativamente no voto”, destaca o presidente da ABCOP, Carlos Manhanelli.

Nas ruas, porém, essa aversão se estende às outras legendas. “Eu não voto no PMDB, PSDB e PT. Esses partidos estão todos envolvidos nos últimos episódios de corrupção descobertos”, afirma o engenheiro Gabriel Reis. 

Já a professora de artes Adriana Costa dos Santos disse não escolher políticos do PSDB e DEM por questões ideológicas. “Não acho que são partidos que se importam com a diversidade. Também pesa o histórico deles”, observa. 

Muitos eleitores, entretanto, não se prendem à legenda. “Só olho o que eles falam”, diz a cabeleireira Rafaela Gonçalves. 

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