Cantora chilena Violeta Parra é retratada em filme de Andrés Wood

Paulo Henrique Silva - Do Hoje em Dia
06/07/2012 às 12:52.
Atualizado em 21/11/2021 às 23:22

(Imovision)

Cinebiografias geralmente buscam reproduzir o ciclo da vida, entre o nascimento e a morte, com o fim do filme coincidindo com a despedida do protagonista. Até mesmo os trabalhos que optaram por um recorte na trajetória do personagem, enfocando apenas o período de glória, acabam seguindo este arco, encerrando-se num momento de inflexão.

Com “Violeta Foi para o Céu”, que estreia nesta sexta-feira (6) numa das salas do Belas Artes, o diretor chileno Andrés Wood (“Machuca”) quebra esse paradigma.
O filme começa e termina com a morte da cantora Violeta Parra, fundadora da música popular chilena que se suicidou em 1967. Signo que também se faz presente em toda a narrativa.

Cada novo capítulo de Violeta é iniciado com uma espécie de morte, como a perda da filha e do pai.

Uma leitura muito particular de Wood, para quem a música da folclorista, gravada no Brasil por Milton Nascimento e Elis Regina, está fortemente marcada por esses acontecimentos.

Sua personagem nasce trágica, predestinada a uma vida sofrida. Quando Wood a mostra criança, ele acentua o estranhamento e o confronto.
Mas é do choque com o pai alcoólatra que surge o desejo de criar canções que falem de seus sentimentos, encampadas pelos movimentos esquerdistas e feministas nas décadas de 1960 e 1970.

O diretor, no entanto, não está interessado em fazer dela um exemplo, sublinhando a sua luta política. Ele torna essa faceta algo natural, decorrente mais de seu temperamento.

Quando, num clube de homens da high society onde se apresenta, ela é convidada a almoçar na cozinha, sua reação está, em primeiríssimo lugar, vinculada à defesa de sua dignidade.

Não há nenhuma outra cena em que essa atitude se estenda aos demais personagens. Nem mesmo os filhos, que agem em função dela.

Ações como a criação de uma escola voltada para o folclore, nas redondezas de Santiago, não são tão reverenciadas, associadas ao ciclo de vida e morte em que se assenta a trama.

Ao ressaltar essa postura, Wood desnuda sua protagonista, desenvolvendo um paradoxo curioso, entre o exemplo de uma coletividade e a torrente individualista.

O realizador chega a essa equação de forma brilhante, sem louvar a cantora como em outras cinebiografias, enveredando mais por seu turbilhão interior; além de abrir mão do tom histórico, a partir de uma narrativa fragmentada, que vai e volta no tempo.

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