O ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, considerou "normal" a atuação da Polícia Militar do Rio de Janeiro diante da manifestação próximo ao Palácio da Guanabara, na última segunda-feira, 22, durante a visita do papa Francisco. Na ocasião, bombas de efeito moral foram lançadas pela tropa de choque da PM nos manifestantes. Além disso, o veículo chamado de "caveirão" percorreu as ruas do bairro de Laranjeiras, perseguindo estudantes que protestavam.
Ao apresentar um balanço do trabalho de segurança durante a Jornada Mundial da Juventude (JMJ), Cardozo disse que as manifestações ocorridas no período foram tratadas "sem violência". Indagado se o uso de bombas na rua Pinheiro Machado, na última segunda-feira, não se tratava um ato de violência, ele respondeu: "Foi uma contenção normal da polícia do Rio de Janeiro". Depois o ministro afirmou que o trabalho das polícias nas manifestações atendem resoluções internacionais. Cardozo disse desconhecer uma polícia no mundo que não recorra a "esses instrumentos" para garantir a segurança das pessoas. "Eu sou um grande crítico do abuso de poder, mas não posso aceitar que a polícia não possa usar esses instrumentos", declarou.
Sobre a suspeita de ter havido agentes da polícia infiltrados nas manifestações incitando o quebra-quebra, o ministro disse que toda a denúncia deve ser apurada. Mas ressaltou que essa acusação será tratada especificamente por uma comissão formada pelo Ministério Público Estadual e governo fluminense.
No balanço apresentado nesta segunda-feira, Cardozo e o ministro da Defesa, Celso Amorim - que também participou da coletiva -, disseram que a segurança na JMJ funcionou e que o Brasil está preparado para os grandes eventos. O ministro da Justiça, entretanto, admitiu que houve um deslize no primeiro dia da visita do papa, quando o carro no qual ele estava ficou preso no trânsito da capital do Rio. Ele explicou que um representante de um centro de monitoramento municipal não passou para a equipe que monitoram o trânsito um boletim prévio da passagem do papa pelas ruas onde ocorreu o problema. Dessa forma, os ônibus - que não deveriam estar na área - tiveram liberação para trafegar, e isso não poderia ter ocorrido.
Na operação montada pela Polícia Rodoviária Federal (PRF) nos chamados "Caminhos da Fé" em direção ao Rio, foram registrados três acidentes durante todo o período da Jornada, mas com apenas uma morte, a de um motorista, em uma estrada federal em Minas Gerais, que colidiu o caminhão com um ônibus de peregrinos que retornavam do Rio.
Cardozo destacou, porém, que na área do evento, em Copacabana, não foram registrados homicídios. Lembrou que além do artefato encontrado em Aparecida (SP), dias antes da visita do papa, foram detectadas duas bolsas suspeitas no Rio, mas sem indícios de tentativa de atentados.
O ministro da Justiça disse que a PRF vistoriou 9.787 ônibus nas estradas. Destes, 3.038 foram notificados por irregularidades e 95 detidos. Na operação, 281 pessoas foram presas. Atuaram no período da visita do papa 6.008 homens da Polícia Federal, 2.050 da PRF; 1.405 da Força Nacional e 13.723 das Forças Armadas.
Amorim e Cardozo avaliaram que a experiência de segurança na JMJ foi inédita, até mesmo para a segurança do Vaticano, que não conhecia o estilo do papa Francisco. O ministro da Justiça relatou que Francisco, em um primeiro momento, recusou o uso de papamóvel blindado e que 48 horas antes da chegada ao Brasil também refutou um pedido das autoridades brasileiras de fazer uso de carro blindado em trechos de seu percurso (conforme tinha sido acordado anteriormente).
Cardoso disse que fazer a segurança do evento foi mais difícil e complexo que em uma Copa das Confederações ou Copa do Mundo. "Estamos diante de um evento em que milhões de pessoas comparecem. É um evento de massa, bem diferenciado", afirmou. "Foi realmente uma situação de grande êxito. Falhas acontecem, mas o esforço de segurança foi feito e mostrou que o Brasil está preparado para grandes eventos, na questão da segurança".