Caro presidente interino Michel Temer (PMDB):

Primeiramente, peço que me desculpe por escrever uma carta, estando as cartas estão fora de moda, tão ultrapassadas. Mas sei que vossa excelência não se importará com isso. 

Em segundo lugar, desconsidere, por obséquio, o fato de ser uma mulher a lhe escrever. Hoje pedi o almoço num restaurante delivery e, por mais absurdo que possa parecer, deixei meus filhos aos cuidados do pai deles. 

Na minha linha do tempo do Facebook, enquanto se votava o impeachment da presidente Dilma, aquela que era sua amiga em outubro, quando o senhor já tinha em mãos o “Ponte para o passado”, digo, “Ponte para futuro”, o país aparecia dividido. Pelas manifestações nas ruas também era assim que se mostrava o Brasil. Foram até construídos muros em Brasília, não é? Mas agora percebo um silêncio, talvez perplexo, diante do ministério másculo que ameaça não pagar salário dos servidores sob o pretexto de apertar ainda mais os brasileiros que já pagam tão caro para viver. 
Desconfio que muitas pessoas que pediram a saída de Dilma não sabiam que justamente o senhor é que assumiria. Elas foram às ruas contra a corrupção e agora estão sob a mira de sete ministros investigados na mesma “Lava Jato”. Uma bobagem tudo isso, não é, presidente? O importante é que o Henrique Meirelles vai resolver tudo e o Brasil voltará a crescer!

Não precisamos dos ministérios da Cultura, da Igualdade Racial, das Desigualdades, de Direitos Humanos, nada disso. Faz bem, senhor presidente, porque pessoas que transitam por esses meios têm mania de questionar, de dar opinião, e imagina se o povo aprende a pensar? Se entra numa onda de empoderamento? Como iria votar? Nem quero pensar nisso e imagino que Vossa Excelência também não. 

Fique bem, presidente. E não se assuste com as vozes das ruas. O único risco é que, como as mulheres ficaram em casa, elas podem resolver pegar as panelas. Maso senhor saberá articular uma saída. É brilhante nisso.

Bom governo!