Filme que abrirá, nesta sexta-feira (5), a nova programação da sala CentoeQuatro, "A Cidade é uma Só?" carrega em seu título uma indagação que reflete a proposta dos coordenadores do espaço, na busca de alternativas ao cinema comercial despejado em shoppings.
"Não há sala de cinema para receber produções importantes e que não são badaladas. Depois que os cinemas de rua fecharam, o público ficou órfão desse tipo de filme", observa Inês Rabelo, coordenadora do centro cultural criado em 2009, na Praça Ruy Barbosa, região central.
Defasagem
Desde que foi aberta, há três anos, a sala de 80 lugares já mirava esse perfil, mas só agora, com o patrocínio da Usiminas, por meio da Lei Estadual de Incentivo à Cultura, o projeto ganha corpo. Inês prefere não revelar os valores investidos pela siderúrgica mineira.
À frente da programação está Daniel Queiroz, ex-gerente do Cine Humberto Mauro e diretor de Audiovisual no governo estadual. "O circuito em BH está defasado em relação ao nacional. Os filmes não estreiam ou demoram muito para chegar às nossas telas", destaca.
Lançamentos
Por conta desse atraso, ele aposta numa programação de lançamentos, privilegiando o cinema nacional. "Teremos uma linha parecida com a do Belas Artes, mas com uma pegada mais forte nos filmes brasileiros. Fora os títulos internacionais, pois, sozinho, o Belas não consegue dar vazão a todos os lançamentos", assinala.
"Nosso foco, agora que temos uma programação regular, é na formação de plateia, contemplando programas voltados para professores da rede pública e sessões comentadas. Queremos nos aproximar do público que não está habituado a frequentar cinema", afirma Inês.
O patrocínio tornou possível o investimento em cadeiras, reaparelhamento, especialmente na qualidade de som, e a cobrança de ingressos mais acessíveis (R$ 10, inteira). A coordenadora, porém, acredita que, no futuro, caso não consiga renovar o patrocínio, a sala consiga se sustentar sozinha.
Filme de Helena Ignez estará na sequência
Daniel Queiroz destaca que a exibição de "A Cidade é uma Só?" é oportuna, por enfocar o processo eleitoral. "Como estamos às vésperas da eleição, é interessante ver algumas questões que o filme suscita sobre o sistema político".
Neste pseudo-documentário, o diretor acompanha um candidato a vereador "mambembe" da periferia do Distrito Federal. Adirley Queirós estará em Belo Horizonte para um bate-papo com o público, na sexta-feira, na sessão das 19 horas.
O CentoeQuatro será a primeira sala do Brasil a exibir o filme em caráter comercial. "Para os filmes que não têm distribuidora, como era o caso do longa de Adirley, entraremos diretamente em contato com os realizadores".
Com funcionamento de terça a domingo, em três sessões, a sala também apresentará "Luz nas Trevas", de Helena Ignez, espécie de continuação de "O Bandido da Luz Vermelha", de 1968.