Chacina de Unaí: 15 anos sem respostas

Lucas Simões
Publicado em 24/01/2019 às 22:47.Atualizado em 05/09/2021 às 16:12.

Após 15 anos da chacina de Unaí, quando três auditores fiscais do Ministério do Trabalho e um motorista foram assassinados em serviço, os irmãos apontados no processo como mandantes da execução estão em liberdade. Para denunciar o que considera uma morosidade do processo, o Sindicato Nacional dos Auditores Fiscais do Trabalho (SINAIT) realiza dois protestos, em Belo Horizonte e Brasília, na próxima segunda-feira, quando o crime completa mais um ano. 

Para o delegado Marcelo Campos, presidente da Delegacia Sindical de Minas Gerais do Sindicato Nacional dos Auditores Fiscais do Trabalho, os atos públicos são uma forma de exigir justiça e jogar luz sobre a fiscalização do trabalho escravo no país. Na capital mineira, o protesto acontece na PUC Minas da Praça da Liberdade, a partir das 9h. No mesmo horário, será realizado ato em Brasília, em frente ao Tribunal Regional Federal 1ª Região (TRF 1).

“Os mandantes estão soltos. Esse caso mudou a forma de os auditores fiscais trabalharem, chamou mais atenção para um problema grave e que precisa ser combatido e não acobertado”, critica Marcelo.

O crime aconteceu em 28 de janeiro de 2004, quando os auditores João Batista Soares Lage, Nelson José da Silva e Erastótenes de Almeida Gonçalves, além do motorista Ailton Pereira de Oliveira, foram assassinados com tiros à queima roupa.

As primeiras prisões só aconteceram em 2013, uma década após os assassinatos. Três pistoleiros foram condenados a penas que, juntas, somam 226 anos de prisão.

Ex-prefeito de Unaí pelo PSDB, Antério Mânica e o irmão dele, Norberto, dois grandes produtores de feijão da região, foram apontados pelo Ministério Público Federal (MPF) como mandantes do crime. 

A sentença deles saiu em 2015, com cada um condenado a cumprir 100 anos de prisão. Apesar de o MPF pedir a prisão imediata dos réus, a Justiça permitiu que ambos recorressem em liberdade.

No fim do ano passado, no entanto, uma reviravolta mudou os rumos do processo. O Tribunal Regional Federal da 1ª Região (TRF-1) anulou a condenação de Antério Mânica. O ex-prefeito terá que ser submetido a novo julgamento, ainda sem data marcada. 

Na mesma época da anulação, Norberto, que recorre em liberdade, prestou depoimento e sustentou ser o único mandante do crime.
 

Minas concentra 58% do trabalho análogo à escravidão

Com recorde de empresas autuadas no ano passado, Minas concentra 58,15% dos casos de trabalho análogo à escravidão no Brasil, segundo levantamento da Delegacia Sindical de Minas Gerais do Sindicato Nacional dos Auditores Fiscais do Trabalho . Esse é o maior índice dos últimos sete anos, com 65 empresas fiscalizadas no Estado e 620 trabalhadores vítimas de tráfico humano.

Segundo o delegado Marcelo Campos, presidente da Delegacia Sindical de Minas Gerais do Sindicato Nacional dos Auditores Fiscais do Trabalho (SINAIT), a maioria dos casos acontece em fazendas, carvoarias, mineradoras, plantações de café e no setor da construção civil. 

“São os lugares mais comuns, normalmente mais isolados. Porém, no ano passado tivemos um caso inédito de uma seita religiosa enquadrada como trabalho escravo. Então, é importante ficar atento para essa espécie de novidade no país”, alerta Campos.

Em fevereiro do ano passado, a Polícia Federal desmantelou uma organização criminosa que mantinha fiéis em situação análoga à escravidão em dezenas de cidades do Sul de Minas. 

O caso estava sendo investigado desde 2011. Segundo as apurações, aproximadamente 800 pessoas foram trazidas de São Paulo para Minas Gerais e para a Bahia, por intermédio de uma igreja.

Apesar da promessa de emprego e renda, os fiéis trabalhavam sem receber em restaurantes, lanchonetes e fazendas pertencentes à igreja. Segundo a PF, as vítimas foram convencidas de que deviam obediência a uma entidade sobrenatural.
Ao todo, 13 pessoas foram presas, incluindo um pastor, apontado como principal mentor do esquema, e um vereador de São Vicente de Minas</CW>. <CF37>

 

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