DAMASCO - O presidente do Comitê Internacional da Cruz Vermelha (CICV), Peter Maurer, viajou nesta segunda-feira (3) para a Síria, onde novos ataques aéreos do Exército fizeram dezenas de mortos na região de Aleppo e um atentado atingiu a capital. Segundo o Conselho Nacional Sírio (CNS), principal coalizão oposicionista, 30.000 pessoas foram mortas desde o início do conflito, que também obrigou milhões de pessoas a abandonarem suas casas, e 250.000 refugiados a fugirem do país, desde março de 2011. Depois da morte de mais 138 pessoas, incluindo 78 civis, durante esta segunda-feira, Maurer deve se reunir com o presidente Bashar al-Assad, anunciou o CICV em Genebra. As discussões devem girar em torno da situação humanitária e das dificuldades encontradas pelo CICV e pelo Crescente Vermelho sírio para socorrer as pessoas afetadas pela violência. No terreno, caças do Exército bombardearam Aleppo (norte) e a cidade de Al-Bab, retaguarda dos rebeldes, deixando várias dezenas de mortos. Na metrópole comercial, palco de intensos combates há um mês e meio, dez civis, entre eles quatro crianças, foram mortos no bairro de al-Maïssar, enquanto outras 18 pessoas, incluindo seis mulheres e duas crianças, morreram em Al-Bab, segundo o Observatório Sírio dos Direitos Humanos (OSDH). "Dormíamos quando a primeira bomba explodiu. Corri para a porta e então fomos atingidos pela segunda explosão", declarou à AFP um morador local coberto de estilhaços, encontrado em um abrigo perto de Aleppo. "Minha mãe, meu pai, minha avó e minha irmã morreram", acrescentou, chorando. Dois de seus irmãos estavam deitados ao seu lado, um adolescente e um bebê que respirava com dificuldade. Os insurgentes abriram em 20 de julho uma nova frente em Aleppo, antes de o Exército recuperar vários setores. Aleppo retomada "em 10 dias" O general encarregado das operações no oeste de Aleppo, que pediu para não ser identificado, afirmou à AFP que as tropas vão retomar o controle da cidade em "dez dias", porque Salaheddine e Seif al-Dawla, os dois principais bairros onde os rebeldes estão concentrados, estão próximos de serem reconquistados pelo Exército. Segundo o general, os combates estão sendo travados entre cerca de 3.000 soldados e 7.000 "terroristas" - termo usado pelas autoridades para designar os rebeldes -, sendo que cerca de 2.000 já foram mortos desde o início dos combates em Aleppo. Além disso, um atentado com carro-bomba deixou cinco mortos e 27 feridos civis em Jaramana, periferia do sudoeste de Damasco de maioria cristã e favorável ao regime, segundo o OSDH. A agência oficial Sana mencionou um atentado "terrorista" que feriu "mulheres e crianças" em um bairro comercial. Um fotógrafo da AFP viu janelas quebradas e uma varanda que desabou. Em 28 de agosto, 27 pessoas morreram em um atentado semelhante na mesma localidade. "Há um aumento dos atentados com carros bomba na Síria", declarou à AFP Rami Abdel Rahman, diretor do OSDH, acrescentando que comitês populares de defesa estão sendo formados em bairros pró-Assad. "Isso quer dizer que o regime perdeu o controle porque já não pode defender seus próprios partidários", disse Rahman. Na periferia de Mazzé, bairro nobre no oeste de Damasco, o Exército destruiu casas e estabelecimentos comerciais, e obrigou os moradores a pintarem suas paredes para esconder as frases de protesto contra Assad, segundo o OSDH. Missão "quase impossível" Estas foram as semanas mais violentas na Síria desde o início da revolta, com mais de 5.000 mortos em agosto. No total, mais de 26.000 pessoas morreram em quase 18 meses de conflitos. O novo mediador internacional para a Síria, Lakhdar Brahimi, esperado em breve em Damasco, de acordo com as autoridades, afirmou que sua missão "é quase impossível". Kofi Annan, seu antecessor, renunciou em 2 de agosto, justificando uma falta de apoio das grandes potências. O êxito desta missão "não depende da Síria", considerou o ministro sírio da Informação, Omrane al-Zohbi, mas de "alguns Estados, como "o Qatar, a Arábia Saudita e a Turquia", que devem, segundo ele, "respeitar sua missão, fechando suas fronteiras para os homens armados e parando de fornecer armas". O chefe do CNS, Abdel Basset Sayda, exigiu mais uma vez durante uma visita a Madri o fornecimento de armas e uma intervenção militar emergencial para proteger os civis. O diretor da CIA, David Petraeus, está na Turquia para discutir com Ancara os relatórios regionais sobre o conflito sírio. A Turquia e os Estados Unidos se reuniram recentemente para preparar o período pós-Assad, abordando principalmente o arsenal químico do regime e os riscos da Síria se tornar um santuário para os movimentos armados, como o Partido dos Trabalhadores do Curdistão (PKK, rebeldes curdos da Turquia) ou a Al-Qaeda.