Cine Belas Artes completa 20 anos nesta quarta-feira

Paulo Henrique Silva - Do Hoje em Dia
29/08/2012 às 10:46.
Atualizado em 22/11/2021 às 00:50
 (Carlos Roberto)

(Carlos Roberto)

"Vinte anos não são 20 dias", adverte Carlos Alberto Soares Silva, em seu jeito simples, mas revelador da profunda identificação com seu local de trabalho. Há duas décadas, ele ocupa um espaço escuro de pouco mais de 16 metros quadrados no Belas Artes. É o funcionário mais antigo do que é hoje o único cinema comercial de rua de Belo Horizonte.

No dia 29 de agosto de 1992, Silva era um dos projecionistas que participaram da inauguração do complexo de três salas que apostava numa programação diferenciada, voltada para os filmes de arte. Não era o pioneiro, pois perto dali estavam o Savassi Cineclube e o Usina. Mas foi o único a sobreviver à invasão dos multiplexes.

"Por várias vezes, o Belas Artes esteve para fechar. Com cinco anos, as filas diminuíram de tamanho e cogitaram fechar as portas. Depois mudaram os proprietários até chegar à crise do ano passado", lembra Silva, referindo-se à briga na Justiça travada por Pedro Olivotto para retomar o cinema, após não receber as parcelas da venda e ver o Belas ganhando fama de caloteiro entre as distribuidoras de filmes.

O também projecionista Marcelo Amâncio, com 16 anos de casa, assinala que chegou a pedir "vale" no quinto dia útil do mês para ter algum dinheiro no bolso. "Esperava pelo pior".

Silva também temeu pelo futuro do que chama de sua casa. "O dia que sair daqui vou morrer de saudade. Tenho aqui uma história de vida. Vivo mais dentro dessa cabine do que em casa, com a minha família", afirma.

Exigentes

O público acabou se tornando um rosto familiar. Amâncio observa que, "no decorrer dos anos, criou amizade com os clientes", que batem à sua porta para saber se o filme em cartaz é bom. "O público do Belas é exigente. O mínimo de perda de foco é percebido por eles", registra.

Para Amâncio, essa exigência está estreitamente ligada à longa permanência dos funcionários no cinema. "Como projetamos ainda em 35 milímetros (película), além de serem filmes de arte, o Pedro pede para caprichar o que pode. E o fato de serem os mesmos operadores torna tudo mais fácil", salienta.

A dupla "salvou" muita sessão, não permitindo que os espectadores saíssem frustrados. Amâncio lembra da vez em que controlou um rolo na mão por 40 minutos. "O motor pifou e a máquina não puxava a fita. Enquanto na sala lotada o pessoal ria, eu suava na cabine para o rolo não cair", diverte-se.

Rolo é uma palavra que inexiste no vocabulário da revolução digital que assalta os cinemas mundiais. "Somos a última geração que sabe projetar em película. A tendência é apertar um botão", lamenta Silva.

Já o colega alerta que, com o digital, o projecionista nada pode fazer em caso de problema. "A única coisa é ligar para um suporte em São Paulo e rezar para conseguirem arrumar".

Cinema teve lançamento um ano antes da abertura

O Belas Artes foi montado num espaço alugado do Diretório Central dos Estudantes (DCE) da UFMG, que pouco antes lançou um edital para a cessão do prédio. A edificação estava em ruínas e o edital exigia que o complexo teria que estar pronto e inaugurado em seis meses.

Como o tempo era muito curto, assim como o dinheiro dos proprietários Tâmara Braga, Elza Cataldo e Jean-Gabriel Albicocco, um pré-lançamento chegou a ser feito em meio às obras, com a presença de atores italianos, um ano antes de finalmente abrir as portas em 29 de agosto de 1992.

Cinema europeu

Na primeira noite de funcionamento, foram exibidos para convidados três produções de países diversos: "O Marido da Cabeleireira", do francês Patrice Leconte; "Urga", do russo Nikita Mikhalkov; e "Ladrão de Crianças", do italiano Gianni Amelio.

A abertura teve performance da artista plástica Gabriela de Marco e apresentação dos músicos José Eymard e Celso Moreira. O público só conferiu a programação a partir do dia seguinte.

Apesar de algumas reformas, o espaço não era muito diferente do que é hoje, dotado ainda de café-bar, galeria de arte, livraria e bonbonnière.

No Circuito Cultural da Rua da Bahia

Localizado na rua Gonçalves Dias, esquina com a rua da Bahia, no bairro de Lourdes, o Belas Artes está em negociações com o governo estadual para integrar o Circuito Cultural da Rua da Bahia. "Como estamos em ano de eleições, não tenho grandes expectativas de que se concretize neste ano. Como único cinema do circuito, além de ser o único de rua de Belo Horizonte, vejo com bons olhos a nossa incorporação a essa formatação", revela Pedro Olivotto, atual proprietário do Belas.

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