O Clubhouse é um dos assuntos “da hora” no Brasil, desde a última semana. A rede social baseada em mensagens de áudio virou desejo de consumo daqueles que adoram uma novidade digital. Como a adesão ao “clube” depende de convite, quem conseguiu colocar o pezinho dentro passou a causar inveja nos “demais mortais” postando print da inclusão com o mesmo orgulho de quem mostra a chave de um Porsche, a vista para o mar do Caribe nas férias ou um prato de comida sofisticado. Além de reverberar o tema nas demais comunidades online, instigou a cobiça alheia. E já tem até gente vendendo o “ingresso” para a rede no Mercado Livre.
Mas, afinal, que diabos é esse tal de Clubhouse? Até outro dia, era só nome de sanduíche do McDonald's. Mas fato é que a nova rede social chegou ao Brasil há poucos dias após ter sido turbinada com a participação do bilionário Elon Musk em um debate. Para quem não sabe, é o dono da marca de carros elétricos Tesla e o patrocinador de viagens para Marte.
O grande lance do Clubhouse é permitir que os usuários da rede tenham contato direto com pessoas como… Elon Musk e outras celebridades, como Oprah Winfrey.
Ou seja, é como se fosse o LinkedIn, mas com trocas de áudios, além de salas de debate ou palestras, tudo de forma dinâmica.
Quem está no ambiente pode participar de painéis de diferentes temas de forma participativa. E vale ressaltar também a possibilidade de contato com personalidades de diferentes ramos de atuação, algo que chamou a atenção de quem realmente vê oportunidade de network e conhecimento. Para se ter uma ideia, só em janeiro o app foi baixado mais de 3 milhões de vezes. E olha que só está disponível ainda para smartphones da Apple.
Leão de chácara
Como toda novidade, o Clubhouse também chamou atenção de quem quer estar por estar. Só para fazer parte da comunidade e “pertencer” a um grupo. No entanto, fazer parte não depende apenas de cadastro e tempo para administrar contatos e conteúdos. A regra do convite se dá, segundo os criadores do Clubhouse, pelo fato de ser uma rede nova, sem a mesma robustez de servidores que um Facebook. Pode até ser isso, mas vale esclarecer que o fato de não ser para qualquer um é também uma ferramenta de divulgação voraz. Afinal, se é para tão poucos, que seja para mim.
Nomes conhecidos do marketing, como Martha Gabriel, têm contribuído para aumentar no Brasil a lista de espera na balada digital, onde um sorriso não é capaz de amaciar o leão de chácara na porta. A autora e palestrante chegou a usar o convite a que tinha direito para aumentar sua popularidade em outras redes.
Cambismo
Tudo isso gerou uma espécie de cambismo virtual. No site Mercado Livre há dezenas de “bilhetes” para ingressar na rede. Com preços que vão de R$ 80 a mais de R$ 300. Inclusive, é possível parcelar em até 12 vezes no cartão.
De acordo com a doutora em inovação na educação, Sarah Vilaça, recém-chegada à nova rede, o Clubhouse é uma ferramenta profissional, antes de tudo.
“É uma rede de contatos profissional que ele (usuário) pode escolher os nichos do ponto de vista da área em que atua e que tipo de interação ele quer estabelecer”, explica.
No entanto, Sarah aponta que o maior benefício da rede é que ela te permite ter voz. O participante não é apenas um receptor, que tem como interação o botão de curtida ou um comentário que será engolido pelo feed.
“Lá você não fica só ouvindo, o que é diferente de uma live ou de uma transmissão no YouTube onde tem apenas um convidado. Pessoas podem interagir e conversar”, conta.
A jornalista e sócia da agência Bakanas Digital, Bruna Moreira, também vê o grande potencial da rede.
“Acredito que o Clubhouse traz uma combinação de atrativos para os participantes. Um deles é o formato apenas com áudio, em que a pessoa poderia usar e participar em qualquer lugar ou momento. Mas vai além disso. Na verdade, trabalha com a ideia de que o participante realmente está em ambiente de conversa, onde ele não apenas escuta, mas pode interagir com celebridades, influenciadores e grandes nomes de determinado segmento. Isso poderia oferecer inúmeras possibilidades de aprendizados, trocas de experiências, networking e, até mesmo, oportunidades de negócios”.
A empresária acredita que o exclusivismo da rede também gera interesse de participar.
“Outra questão está no fato de que o aplicativo ainda é bem restrito, disponível apenas para iOS e a dependência do convite traz a sensação de maior segmentação e qualificação do público, além de diferenciação perante o mercado. Afinal, quem vai querer ficar de fora?”, questiona.
Para entrar
Ficou interessado? A primeira coisa para poder pleitear o acesso à rede é ter um iPhone. Depois, é preciso conhecer quem já esteja lá e não tenha gasto seus dois convites de entrada. Lá dentro, o app vai te conectar com a lista de contatos que já fazem parte da rede. Mas é possível passear pelos Clubs, que são os painéis de discussões.
Também é possível criar seu próprio Club. Ou seja, apesar do oba-oba gerado nos últimos dias, realmente poder bater um papo com um Elon Musk da vida é algo que desperta interesse.
No entanto, como em qualquer rede, é preciso saber como tirar o melhor proveito. Pois uma coisa é estar lá para fazer um print de sua conversa com o “Pica das Galáxias” de algum tema e outra é conseguir se relacionar de fato e abrir novas portas. Aí é com você!
Dentro da "balada"
Entrar no Clubhouse foi mais fácil do que o propagado, pelo menos para mim. Assim que baixei o App, fiz o cadastro para entrar na “fila da balada”. Mas não demorou um minuto para um colega que trabalha na Electronic Arts me “puxar para dentro”.
Depois de sincronizar contatos e definir temas de interesse. Começou a odisséia. Num primeiro contato, o Clubhouse pode parecer confuso. De repente, seu microfone está aberto ou você começa ouvir pessoas falando. Mas aí você percebe que já está no painel de quem você segue ou por quem foi convidado.
O interessante é que o usuário pode navegar nos Clubs e entrar na roda da conversa. Numa discussão sobre LinkedIn, logo apareceram executivos da empresa e na sequência um diretor da Disney e um executivo de Marketing do McDonald ‘s. E o grande barato é que qualquer um pode participar e ser respondido.
Para quem está em busca de novos contatos, a baladinha é o point.
(*) Estagiária, sob supervisão do editor