Cobiça de ouro envenena Yanomami

20/05/2016 às 19:28.
Atualizado em 16/11/2021 às 03:32

O mercúrio dos garimpos ameaça dizimar o povo Yanomami, que vive na fronteira entre Brasil e Venezuela.

O mercúrio é um metal altamente tóxico. Seus danos costumam ser graves e permanentes: alterações do sistema nervoso central, que causam problemas de ordem cognitiva e motora; perda de visão; doenças cardíacas; entre outras debilidades. Nas mulheres gestantes, os danos são ainda mais prejudiciais, pois o mercúrio atinge o feto e causa deformações irrecuperáveis.

Garimpeiros que invadem terras indígenas em busca de ouro utilizam mercúrio para separar o precioso metal dos demais sedimentos. Uma parte é despejada em rios e igarapés; outra, evapora e é lançada na atmosfera. Porém, os danos são ainda mais extensos porque o mercúrio é levado para regiões distantes pela água dos rios e pelos peixes que o ingerem. A contaminação de seres humanos se dá através da ingestão de animais contaminados.

Estudo recente da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), em parceria com o Instituto Socioambiental (ISA), mostra que a contínua invasão ilegal de garimpeiros no território indígena traz graves consequências: algumas aldeias chegam a ter 92% das pessoas contaminadas por mercúrio.

Desde 2014, a invasão de territórios Yanomami por garimpeiros cresce assustadoramente. Estima-se que, hoje, cinco mil garimpeiros atuam ilegalmente na terra indígena Yanomami. As denúncias não têm resultado em ações efetivas dos órgãos governamentais responsáveis.

Para erradicar o garimpo ilegal é preciso descobrir seus financiadores, quem realmente lucra e sustenta esta atividade, desvendar a rota do ouro e qual o seu destino final. 

Nesse sentido, a Polícia Federal realizou duas operações, em 2012 e em 2015. Além de identificar comerciantes e donos de avião em Roraima, descobriu que o ouro chega a uma distribuidora de Títulos e Valores Mobiliários, na Avenida Paulista, em São Paulo.
 
Comitiva formada por lideranças Yanomami e Ye’kwana, e representantes da Fiocruz e do Instituto Socioambiental, estiveram em Brasília, em março, para divulgar o diagnóstico junto aos órgãos responsáveis. Foram entregues cópias à Funai e ao Ibama; ao coordenador da Secretaria Especial de Saúde Indígena; ao Ministério Público Federal; e à Relatora Especial sobre Direitos Indígenas da ONU, em visita ao Brasil na ocasião. As lideranças indígenas exigiram a retirada imediata dos garimpeiros da terra indígena Yanomami e um atendimento especial em saúde às pessoas contaminadas.

É preciso o governo federal se mobilizar em favor dos povos indígenas ameaçados por garimpos, madeireiras e o agronegócio.

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