Com 8 milhões de clientes, cartão de desconto atrai órfãos de plano de saúde

Estadão Conteúdo
02/12/2018 às 08:43.
Atualizado em 28/10/2021 às 04:01

Depois das clínicas populares, agora é a vez das empresas de cartões pré-pagos ou de descontos em saúde atraírem clientes que perderam o convênio médico ou desistiram de ficar nas longas filas de espera do Sistema Único de Saúde (SUS). Pelo menos 8 milhões de brasileiros já são usuários desse serviço, segundo levantamento feito com as principais empresas do setor. Para fins de comparação, o número ultrapassa a quantidade de clientes das duas maiores operadoras de planos de saúde do país juntas.

De forma geral, tanto os cartões pré-pagos quanto os de descontos cobram mensalidade baixa (a partir de R$ 14,99) em troca de descontos em uma rede conveniada. A particularidade do serviço pré-pago é que, além da mensalidade, ele exige que os procedimentos sejam pagos com créditos depositados no cartão.

Embora em expansão, o serviço é visto por especialistas em saúde e entidades de defesa do consumidor como uma espécie de convênio com cobertura básica, mas sem regulamentação adequada por não ser classificado como um plano de saúde. A própria Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS), que regula as operadoras de planos, criou uma cartilha explicando as diferenças entre os dois serviços e os cuidados que o consumidor deve ter ao optar pelos cartões. Entre as críticas estão o fato de os cartões não garantirem atendimentos ilimitados nem uma lista mínima de procedimentos cobertos.

Já os usuários do serviço e as empresas que operam nesse ramo afirmam que o modelo é uma alternativa para quem quer ter acesso rápido a consultas e exames, mas não tem condições financeiras de pagar a mensalidade de um plano.

Maior empresa do setor, a Cartão de Todos (que dá descontos também em estabelecimentos de educação e lazer) viu o número de adesões mensais triplicar este ano. "No ano passado, tínhamos 30 mil por mês. Neste ano, o número passou para 100 mil", conta Altair Vilar, presidente da companhia, que possui 7,8 milhões de usuários. Na rede conveniada que dá descontos aos portadores do cartão, a consulta médica com um clínico-geral sai por R$ 20.

Foi atraída por esses preços que a dona de casa Maria do Carmo Rocha Souza, de 55 anos, fez o cartão para a mãe, Joana, de 87. "A gente tinha convênio, mas cancelamos por causa do preço e passamos a usar só o SUS. Só que ela tem diabete, pressão alta e Alzheimer e a consulta na rede pública demora demais. Na idade dela, não dá para esperar", afirma.

Para Antônio Eduardo de Carvalho Brigagão, CEO da Vale Saúde Sempre, empresa de cartão pré-pago com mais de 200 mil clientes, as consultas e exames saem mais em conta aos usuários dos cartões porque as companhias do ramo negociam com as clínicas da mesma forma que as operadoras de saúde. "Elas aceitam baixar o preço porque levamos mais clientes."

Clientes corporativos

O baixo custo da mensalidade dos cartões fez as companhias atuantes no setor oferecerem o produto não apenas para pessoas físicas, mas também para pessoas jurídicas interessadas em dar o cartão aos seus funcionários. São, geralmente, pequenas ou médias empresas que não oferecem plano de saúde aos trabalhadores.

Com foco nesse mercado, a Doutor Já atende 50 empresas, que, juntas, têm 6 mil trabalhadores. "Algumas oferecem só o cartão de desconto e outras depositam um valor mensal para que os funcionários possam pagar procedimentos", diz Gustavo Valente, CEO da Doutor Já.

A Ticket, conhecida pelos benefícios refeição e alimentação, lançou em agosto o Ticket Saúde, que também permite as duas modalidades: só desconto ou créditos para o funcionário. "O custo médio para a empresa é de R$ 28 por colaborador", afirma Adriana Serra, diretora de produtos da Ticket.

Outra gigante que entrou no mercado de cartões pré-pagos de saúde foi a Ultrafarma. Em outubro, a companhia lançou o cartão Sidney Oliveira, que também dá direito a descontos em procedimentos médicos e odontológicos na rede conveniada.

Apesar dos descontos dados pelos cartões, a Proteste alerta que nem sempre o serviço pode ser vantajoso. "A pessoa tem de pagar a mensalidade e mais os procedimentos que for fazer. Se fizer muitas consultas e exames, não vai compensar", diz Luiz Costa, analista de negócios da entidade.

Para Marília Louvison, professora da Faculdade de Saúde Pública da USP, os cartões podem deixar pacientes desprotegidos. "Esse formato não garante continuidade do cuidado nem a resolutividade porque o atendimento vai até onde o paciente pode pagar."

Questionadas, as empresas do setor afirmam que o serviço tem como foco o atendimento primário, com quadros de baixa complexidade e ações de prevenção e promoção da saúde.

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