“Neste ano, devido à disparada dos preços, estou indo bem menos ao supermercado. Vários amigos e familiares também. Reduzimos as compras ainda com calçados, perfumes... A ordem é economizar”. O relato da vendedora Eliana Gonçalves ajuda a entender uma estatística apurada pela Fecomércio e que acende a luz amarela em comerciantes e prestadores de serviço em Belo Horizonte: neste ano, mais da metade dos consumidores estão indo menos às compras do que no ano passado.
A pesquisa Intenção de Consumo das Famílias constatou que este percentual representa 51,6% dos consumidores belo-horizontinos. Levando-se em conta que 31,3% responderam que permanecem gastando o mesmo que em 2018, é possível dizer que oito em cada 10 moradores não aumentaram o poder de compras. Apenas 16,9% do total afirmaram aos pesquisadores da Fecomércio que estão gastando mais.
O levantamento é importante para a economia de BH, pois, na prática, funciona como uma espécie de estudo que indica ao empresário se ele deve ou não aumentar estoques, fazer promoções, ampliar o número de parcelas para vendas a prazo etc.
De acordo com especialistas, os números são consequências do receio do desemprego e do endividamento das famílias.
Para se ter ideia, conforme dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), do Ministério do Trabalho, o saldo de vagas abertas e fechadas em todos os setores econômicos da capital ficou negativo em 120,9 mil vagas de 2013 a 2017.
Em 2018, o total foi positivo, com 29,3 mil vagas. De janeiro a julho deste ano, no último mês divulgado pelo Caged, também houve variação positiva (13.284 vagas). Mas os saldos positivos nos sete primeiros meses de 2019 e nos 12 de 2018 ainda não foram suficientes para reverterem a queda do acumulado de 2013 a 2017.
Desta forma, 65,9% das pessoas dizem que a renda familiar está menor ou igual a do ano passado.
“O alto endividamento e a instabilidade em relação ao emprego fazem com que famílias comprem menos para custear produtos e serviços essenciais, além do pagamento de dívidas”, reforçou a economista Bárbara Guimarães, da Fecomércio.
Futuro
A redução das compras vai continuar nos próximos meses. Até o fim de deste ano, alerta o levantamento, 47% dos entrevistados disseram que vão consumir menos do que no segundo semestre do exercício anterior.
“O consumidor da capital mineira prefere não comprometer suas finanças, principalmente, com a aquisição de bens duráveis e semiduráveis, que demandam mais investimentos. Com isso, ao adiar tais compras, ele impacta o faturamento das empresas do comércio”, acrescentou a economista da Fecomércio.
Indicadores de confiança seguem na zona de pessimismo
A desconfiança dos consumidores de Belo Horizonte revelada pela pesquisa da Fecomércio manteve dois importantes indicadores para os lojistas na área do pessimismo.
Tanto o Índice de Intenção de Consumo das Famílias (ICF), medido pela Fecomércio, quanto o Índice de Confiança do Consumidor (ICC), elaborado pela Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas, Administrativas e Contábeis de Minas Gerais (Fundação Ipead), fecharam agosto com números baixos.
O ICF varia de zero a 200 pontos, tendo o número 100 como a fronteira entre o otimismo (100,1 a 200) e o pessimismo (até 99,9).
Em agosto, este indicador ficou em 84,8 pontos. A boa notícia é que interrompeu uma queda de cinco meses consecutivos.
“O alto índice de desemprego, que impacta diretamente a renda dos consumidores, a restrição parcial ao crédito e o alto endividamento das famílias são os principais motivos para que o ICF continue abaixo da fronteira de satisfação”, diz Bárbara Guimarães, economista da Fecomércio.
Ipead
O indicador da Fundação Ipead tem ponto em comum com o da Fecomércio: metade do número da escala completa significa a fronteira entre o pessimismo e o otimismo. Porém, a escala, aqui, vai de zero a 100. Neste caso, o Índice de Confiança do Consumidor ficou em 37,80 pontos. Assim como o indicador da Fecomércio, este também registrou uma pequena melhora (2,44%) em relação ao mês anterior, mas está longe de alcançar a área do otimismo (50,1 pontos).
Tanto que, no acumulado dos oito primeiros meses de 2019, o ICC acumula queda de, 4,09%. Quando destrinchada, a situação fica mais preocupante, pois os seis sub-itens que formam o indicador estão negativos de janeiro a agosto: situação econômica do país (-8,02), inflação (-8,48), emprego (-11,45), situação financeira da família (-0,22), situação financeira da família em relação ao passado (-0,61) e pretensão de compra (-1,92).