O administrador de empresas Marcos Paulo Assunção Almeida acaba de realizar um sonho até pouco tempo atrás praticamente inalcançável: comprou uma casa no Alphaville, condomínio de luxo em Nova Lima. Pelo imóvel, ainda em fase de construção, pagou R$ 550 mil, o equivalente a um desconto 38% sobre a quantia originalmente pedida pelo vendedor. “Hoje, quem tem dinheiro para comprar, nada de braçada. Consegue negociar e pagar até 40% mais barato”, comemora ele.
O “descontão” obtido por Almeida está ligado ao momento de desaceleração do mercado imobiliário. O crédito escasso, o aumento do custo de vida, a falta de confiança na economia, o fantasma do desemprego e o endurecimento das regras por parte da Caixa Econômica Federal, dona de 70% da carteira de financiamento habitacional do país, jogaram para baixo a venda de imóveis novos e usados no país. Com o encalhe, cresce o poder de barganha do consumidor.
O percentual médio de desconto recebido pelas pessoas que compraram imóveis nos últimos 12 meses atingiu em junho seu maior nível desde 2013, segundo pesquisa da FipeZap. O índice registrado foi de 7,6%, o maior resultado desde o início da série histórica do levantamento.
Segundo o coordenador do estudo, Eduardo Zylberstajn, os descontos subiram marginalmente ao longo do tempo, o que mostra que a maré está do lado de quem pretende adquirir a casa própria.
“A diferença do desconto de agora para dezembro de 2013, quando o índice era de 6,5%, é de um ponto percentual. Pode parecer pouco, mas faz toda a diferença no preço final”, afirma Zylberstajn.
Em um imóvel de R$ 600 mil, por exemplo, um abatimento de 6,5% significa um gasto de R$ 39 mil a menos. Já considerando-se uma redução de 7,6%, a economia chega a R$ 45,6 mil.
O vice-presidente das Corretoras de Imóveis da Câmara do Mercado Imobiliário e Sindicato das Empresas do Mercado Imobiliário de Minas Gerais (CMI/Secovi-MG), Flávio Galizzi, diz que o momento está propício para negociação.
“Quem quer fechar negócio tem que ceder, fazer concessões e entender o lado de quem está comprando”, afirma. Ele não soube precisar uma média de descontos, mas disse que quanto maior a oferta em determinada região ou tipo de imóvel, mais generosa pode ser a dedução do preço.
Para o presidente da Comissão de Direito Imobiliário da Ordem dos Advogados do Brasil em Minas (OAB-MG), Kênio de Souza Pereira, o cenário econômico nebuloso exige do vendedor uma dose extra de flexibilidade e sensibilidade. “As construtoras recuaram o volume de lançamentos para não abarrotar ainda mais o mercado. Mas como todos os setores, o mercado imobiliário está sofrendo. E a situação pode piorar”, dispara.
O especialista lembra que a Caixa já aumentou a taxa de juros para financiamento da casa própria duas vezes somente neste ano. E o rigor no cadastro e na concessão de empréstimo está cada dia maior. (Colaborou Alessandra Mendes)
Quase 60% das pessoas que pretendem comprar imóveis acreditam que os preços devem cair nos próximos 12 meses
* Colaborou Alessandra Mendes