Com polarização, sim! Kalil descarta ideologias, mas, na Câmara, divisão esquerda x direita continua

André Santos
andre.vieira@hojeemdia.com.br
16/11/2020 às 21:32.
Atualizado em 27/10/2021 às 05:04

Duda Salabert (PDT) foi a terceira deputada federal mais bem votada em Minas (REPRODUÇÃO FACEBOOK DUDA SALABERT)

Ao comentar a reeleição em 1º turno, na noite de domingo, o prefeito Alexandre Kalil (PSD) deixou claro que não quer polarização na capital: “Não tem agora direita, não tem negócio de esquerda, não tem nada. Vamos continuar governando para todos e para quem precisa”. A julgar, contudo, por resultados da disputa na Câmara Municipal, onde os dois maiores vencedores foram os “opostos” Duda Salabert (PDT) e Nikolas Ferreira (PRTB), o eleitorado da capital não compactua tanto assim com a opção do prefeito pelo centro.

Segundo analistas, a eleição de Salabert, expoente da nova esquerda, e de Ferreira, atrelado ao bolsonarismo, é fruto do engajamento de uma grande quantidade de pessoas que se identificam com ambas as pautas ideológicas. 

“Os dois primeiros colocados para vereador mostram claramente que houve um deslocamento entre os que votaram no Kalil e aqueles que poderiam votar em vereadores identificados com um pensamento de centro, mais pragmático”, destaca Adriano Cerqueira, cientista político da UFOP.DivulgaçãoNikolas diz que pretende dar um basta em “tirania da esquerda”

Para Osvaldo Dehon, cientista político da PUC Minas, o menor número de votos válidos nas eleições para a Câmara – cerca de 70 mil a menos que os apontados para prefeito – mostra que a militância foi um fator fundamental para o sucesso tanto da progressista Duda Salabert quanto do conservador Nikolas Ferreira. “Ambos, mesmo completamente opostos no campo identitário e de ideias, têm um fator em comum, que é a militância. São representantes de pessoas que querem cada vez mais ganhar voz no parlamento”, destaca Dehon.

Vereadora com a maior votação da história de BH, a professora Duda Salabert é dona de outro feito histórico: tornou-se a primeira mulher trans eleita ao parlamento da capital. Aos 39 anos, Salabert afirma que a prioridade do mandato será de defender o protagonismo da educação. Sobre a representatividade dos trans, Duda afirma que é necessário discutir a inclusão de tal público na sociedade. “Não temos direito ao sol, a ir à padaria. Os espaços não foram feitos para nós. Por isso, quando conseguimos uma vitória como essa temos que meter o pé na porta e exigir respeito “, enfatiza.

Segundo mais votado para a Câmara, Nikolas Ferreira (PRTB) se classifica como “bolsonarista, conservador e cristão”. Coordenador do movimento Direita Minas desde 2006, tem como pautas a liberdade econômica e a oposição à chamada ideologia de gênero e ao aborto. Nikolas diz que irá se posicionar de forma contrária a qualquer pauta progressista no parlamento. “Precisamos dar um basta na tirania da esquerda, de ficar ditando como devemos pensar, como devemos agir. A esquerda tem que parar de dividir as pessoas”, destaca ele.

 Concorrentes do prefeito reeleito também
alimentam contraposição entre extremos

Após a derrota na briga pela PBH, Áurea Carolina (Psol) afirmou que a vice-liderança do bolsonarista Bruno Engler (PRTB)na planilha final confirmaria “um perigo” para a capital. “Mais do que nunca, precisamos defender a democracia e enfrentar a política do ódio em nossa cidade”, disse. 

Afinal, mesmo sem tempo em rádio e TV, Engler surpreendeu e obteve a segunda maior votação para prefeito (123.215 votos, ou 9,95% do total). “Com apoio da militância bolsonarista e conservadora, conseguimos chamar a atenção para uma campanha limpa e sem uso do dinheiro público e que levanta os ideais de Deus, da família e da pátria”, sustentou o candidato. 

Para especialistas, contudo, a votação “surpresa” de Engler seria fruto também da alta abstenção aliada a brancos e nulos (juntos, 39,46%). “Isso foi decisivo para que Kalil e candidatos mais pragmáticos, como João Vítor Xavier (Cidadania), tivessem votação menor do que esperavam os institutos de pesquisa, favorecendo Engler”, destaca Adriano Cerqueira. 

Já Oswaldo Dehon acredita que a afirmação de Áurea foi mais para acender a própria militância. “São grupos antagônicos e essa narrativa é primordial para os dois lados”, diz o cientista.

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