
O sucesso do Carnaval de rua em Belo Horizonte, com bloquinhos que arrebanharam milhares de foliões pelas ruas da capital mineira é uma mostra de que o engajamento da popular, muito graças ao movimento em mídias sociais, pode funcionar.
No entanto, o mesmo ainda não pode ser dito a respeito dos desfiles das escolas de samba de BH que ainda carecem de estrutura e local fixo para o evento - ao contrário do que acontece no Rio de Janeiro e em São Paulo.
A maratona de desfiles das oito escolas teve início ainda com sol, por volta das 18h30, com a agremiação Afoxé Banderere (foto). Na sequência desfilam a Bem-Te-Vi, Força Real, Cidade Jardim, Imperavi de Ouros, Acadêmicos de Venda Nova, Estrela do Vale e Canto da Alvorada.
Segundo a Prefeitura de Belo Horizonte cerca de 3 mil pessoas marcaram presença nas arquibancadas.
Desafios
Mas se há poucos anos o Carnaval de BH era sinônimo de silêncio, nada impede que os desfiles das escolas de samba ganhem proporção. Resta saber: o interesse do público é mesmo daquele registrado pelos bloquinhos?
O público compareceu à avenida Afonso Pena sem o mesmo volume dos blocos dos dias anteriores. Segundo os foliões, a falta de organização na entrada para as arquibancadas dificultou o acesso.
"O desfile é importante, o público tem interesse, mas falta investimento. Tinha uma senhora na cadeira de rodas tentando usar o banheiro químico e não conseguiu. Isto precisa ser revisto", aponta Márcia Rodrigues, que veio de Betim para assistir os desfiles.
Para Simone Carvalho, mãe da rainha do Carnaval de BH, e que não conseguia acesso ao camarote, o investimento é pequeno.
"O prêmio é muito pequeno. As escolas não conseguem se manter sem investimento. Para se ter uma ideia, tem uma moça no meu bairro que é rainha de bateria e precisou arcar com o custo sozinha, pois as escolas não têm recursos", observa.
Desorganização
A falta de organização da Escola Bem-te-vi acabou comprometendo a saída da escola. O grupo passou pela avenida Afonso Pena apenas ao som da bateria. Vários integrantes da escola de samba não foram para o desfile. O intérprete Fabiano Costa, contratado do Rio de Janeiro, ficou espantando com a desorganização. "O presidente e a diretoria da escola não estão presentes e o responsável pelo grupo de apoio desapareceu. Sou de escola de samba do grupo de acesso do Rio e jamais vi algo tão desorganizado e o desrespeitoso com o público", desabafa.
O intérprete chegou a pedir que a escola não desfilasse, mas parte dos integrantes optaram por entrar na área do evento apenas ao som da bateria e com apenas algumas alas presentes. "Há dez dias do Carnaval estava tudo pronto. Hoje ninguém apareceu. Tudo foi feito com sacrifício. Não houve qualquer ajuda financeira da Belotur", diz o carnavalesco Aloísio Mariano.
No começo dos desfiles, o prefeito Marcio Lacerda, em entrevista coletiva, avaliou como positiva o Carnaval na capital. "Foi uma festa segura e bonita. Tivemos situações isoladas como o roubo de celulares na Savassi, mas nada que atrapalhou a festa. Esta parceria das polícias Militar, Civil e do Corpo de Bombeiros, com a maioria dos blocos de Carnaval ajudou a fazer uma boa festa para a cidade. Espero que o próximo prefeito melhore ainda mais a estrutura para o evento e consolide essa parceria",diz.
O prefeito destacou ainda que a festa precisa ser descentralizada para que todas as regiões possam receber a folia. "Tivemos uma boa oferta de segurança pública e infraestrutura como banheiros, sistema de trânsito e transporte e a organização dos blocos".
Quanto ao público, 1,6 milhão de pessoas nos dias de festejo, Marcio Lacerda destacou o aumento de belo-horizontinos e turistas optando pela capital mineira. "Neste ano, 250 ônibus não saíram da cidade para outras localidades para o Carnaval. Isso mostra que as pessoas estão gostando do Carnaval em Belo Horizonte e certamente isso irá crescer essa mobilização espontânea", diz.
Atualizada às 22h26