Sai a experiência e entra a vontade de aprender. A baixa taxa de desemprego da Região Metropolitana de Belo Horizonte (RMBH), de 3,8%, de acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), exigiu do comércio varejista e do setor de turismo a flexibilização do perfil dos trabalhadores contratados para o fim de ano, quando os negócios estão mais aquecidos.
O volume reduzido de trabalhadores desocupados abriu espaço para os mais jovens, com menor qualificação, entre 18 e 24 anos.
O funcionário com experiência, maduro e qualificado, continua sendo desejado, mas raramente é encontrado disponível no mercado. Dessa forma, os empregadores passaram a dar mais atenção aos que estão em busca do primeiro emprego, muitos deles com necessidade de conciliar o estudo com o trabalho. Em Belo Horizonte, a Câmara dos Dirigentes Lojistas (CDL-BH) estima a contratação de até 9.400 temporários para as vendas natalinas. A maior parte, avaliam especialistas em mercado de trabalho, será de jovens.
“O cenário obriga o contratante a rever o perfil de profissional a ser contratado. Como a disponibilidade no mercado de trabalho é muito pequena, ganham espaço jovens em busca do primeiro emprego”, explica o diretor do Grupo Selpe, especializado em Recursos Humanos, Glaucus Botinha.
Ele estima que a Selpe coloque no mercado de trabalho em Belo Horizonte cerca de mil trabalhadores neste fim de ano, principalmente jovens.
“Historicamente, dos temporários contratados, entre 30% e 35% são efetivados. Neste ano, dadas as incertezas da economia, deverão ser 20%. O empregador está com receio do futuro e não vai arriscar elevar seus custos com pessoal”, afirma Botinha.
Jéssica Gama, de 19 anos, é um exemplo de trabalhador contratado temporariamente para atender à demanda de fim de ano. Acabou sendo efetivada e promovida. Em 2013, as taxas de desemprego já eram baixas e ela surfou na onda que beneficiou os jovens. “Entrei como auxiliar de vendas e não tinha habilidade nenhuma para a função. Fiz treinamento interno na empresa e minha gerente me efetivou como consultora de vendas, cargo que estou até hoje”, diz Jéssica, que trabalha numa loja de cosméticos.
Agora, com uma colocação no mercado de trabalho, ela enxerga novas oportunidades no horizonte. “Graças ao emprego, terei condições de entrar na faculdade. Passei no vestibular da PUC Minas para engenharia mecânica, mas ainda aguardo a nota do Enem para tentar o Pro-Uni”, comemora a jovem.
Com 20 anos, Guilherme Luiz Moreira busca o mesmo caminho. Ele é um dos alunos do curso de técnicas de vendas promovido pelo Senac. Em busca de um emprego estável, o rapaz vê no emprego temporário uma oportunidade.
“Já trabalhei de garçom em quatro restaurantes, mas quero focar no setor de vendas. A intenção é conseguir um emprego fixo, e as vagas de fim de ano podem abrir portas”, afirma.
Turismo aposta em freelancer na alta temporada
Além da flexibilização do perfil do funcionário, a escassez de profissionais também leva as empresas a adotar outras medidas, como no setor de turismo.
A Pousada Pequena Tiradentes, na cidade de Tiradentes, há dois anos contrata trabalhadores como free-lancers nos fins de semana.
“Quando chega a alta temporada, fazemos contratos temporários com esses profissionais, que já conhecemos e que também já conhecem o trabalho. Como são jovens e, na maioria, estudantes, há uma convergência de interesses: ou trabalham no final de semana ou nas férias”, disse a gerente comercial da pousada, Gabriela Barbosa.
A estratégia é também uma forma de ter o profissional já treinado quando a demanda aquecer. Em média, o treinamento dos garçons, mensageiros e camareiros exige seis meses.
Este ano, 12 pessoas já foram contratadas e vão trabalhar a partir do dia 20 de dezembro. No ano passado, foram nove contratações.
A pousada emprega um total de 78 funcionários. “Este ano, tivemos um crescimento de 20% na hotelaria e as perspectivas são boas para 2015, quando iniciaremos o ano com oito casamentos já agendados”, observou.
Gabriela aponta que, entre as vantagens do profissional mais jovem, estão o aprendizado mais rápido e disponibilidade de horários. Po outro lado, o ponto desfavorável é a indecisão sobre o futuro.
“Já tivemos casos de treinar um pessoa para uma função e, quando ela estava preparada, optou por deixar o emprego para outra função completamente diferente”, relatou Gabriela.
O diretor do Grupo Selpe, Glaucus Botinha, informa que a Lei Federal 6.019, que versa sobre o trabalho temporário, garante ao funcionário com contrato de prazo determinado o mesmo salário e benefícios do efetivo, como férias e Fundo de Garantia por Tempo de Serviço (FGTS). “Do ponto de vista trabalhista, a única diferença é que não há a figura do aviso prévio, uma vez que o contrato tem prazo definido”, afirmou.
Levantamento da CDL-BH realizado com 110 empresários no período de 18 a 29 de setembro apontou que a maioria dos entrevistados (69,32%) oferecerá neste ano o mesmo número de vagas temporárias de 2013. Outros 19,32% não realizarão contratações temporárias e 10,23% contratarão mais neste ano. Para 1,14% dos entrevistados, as contratações de 2014 serão inferiores às do ano passado.
Dos empresários entrevistados, 71,83% contratarão de um a cinco empregados temporários; 16,9%entre seis e dez; 5,63%entre 11 e 15; 4,23%entre 21 e 25; e 1,41% contratarão mais de 25 profissionais.