(Editoria de Arte)
A baixa popularidade foi o calcanhar de Aquiles de Collor e é também o de Dilma. Acuado e sem apoio no Congresso, Collor pediu à população que saísse às ruas com as cores da bandeira nacional. O feitiço virou contra o feiticeiro, e os cara-pintadas vestiram preto para gritar pela saída do ex-presidente.
Se naquela época, a maioria era de jovens, hoje o espectro é maior, na avaliação do sociólogo e professor de Ciências Políticas do Ibmec/MG, Lucas Azambuja. “Há pessoas de todas as idades. Mas ambos são movimentos que não se basearam em entidades pré-existentes”, diz.
Para ele, assim como Collor no passado, Dilma tem sofrido intensamente com as manifestações. “Desde a condução coercitiva de Lula para prestar depoimento na operação Lava Jato, líderes do PT pediram que as pessoas se manifestassem em defesa do governo. Mas a resposta foi contrária, inclusive com o maior protesto em número de participantes já visto no país, no último dia 13”, afirma Azambuja.
A unanimidade contra Collor, entretanto, não se repete no caso de Dilma. A presidente conta com atos a favor do governo e da democracia, como os realizados em vários estados na última sexta-feira, em que as ruas foram cobertas de vermelho, cor do PT. “Não vai ter golpe” são as palavras de ordem escolhidas pelos manifestantes contra o impeachment da petista.
Golpe
Na avaliação do professor do curso de Relações Internacionais do Ibmec/MG Oswaldo Dehon, há certa semelhança entre os acontecimentos atuais e os da década 60, que antecederam a queda de João Goulart.
“Há traços na época de Jango que podemos encontrar hoje, como crítica aos partidos, insatisfação da classe média e uma dose de conservadorismo. Mas no passado havia um ambiente internacional mais favorável, o que não ocorre agora”, compara.
Para o doutor em Ciências Políticas Paulo Roberto Figueira Leal, oligopólios midiáticos e entidades empresarias, como a Fiesp, que apoiaram o Golpe de 64 formam hoje um novo arranjo e têm atuação parecida.
“Se o impeachment prosperar, sem que haja motivo de fato, o próximo presidente não terá segurança jurídica para governar. E o que mais me preocupa não é a saída da Dilma, mas a consequência que isso produzirá para a democracia”, adverte.
A sessão plenária da Câmara da última sexta-feira contou como a 1ª das 10 sessões de prazo para que Dilma apresente a defesa no processo