Consumidor pode se endividar com a compra de combustível dividida no cartão

Lucas Borges
lborges@hojeemdia.com.br
18/12/2017 às 22:03.
Atualizado em 03/11/2021 às 00:20

(Flávio Tavares)

Alternativa para manter rodando veículos de motoristas com o orçamento apertado, o parcelamento de combustível pode estrangular ainda mais as contas do consumidor a médio e longo prazos.

Com o intuito de atrair clientes, afetados diretamente pelos reajustes sucessivos, somando 15% em cinco meses, alguns postos de Belo Horizonte oferecem o rateio do gasto em até três vezes no cartão de crédito. 

Entretanto, especialistas afirmam que, apesar de parecer atraente em um primeiro momento, a prática deve ser usada em último caso, devido ao risco de gerar um impacto negativo no bolso do motorista nos meses seguintes.

Para Felipe Leroy, doutor em Economia e professor do Ibmec, esse parcelamento pode endividar ainda mais o consumidor, que já tem que arcar com outros compromissos assumidos com o uso do dinheiro de plástico. 

“Nunca se deve financiar despesas correntes no cartão de crédito. Nesses casos, antes mesmo de terminar de pagar, você já está demandando novamente. Se o consumidor não tiver uma educação financeira, ele entra em uma bola de neve. Ele já tem outras despesas contraídas no cartão de crédito com bens que foram adquiridos”, avalia. 

Um dado que corrobora a opinião do especialista é o valor do combustível nos postos que oferecem esse tipo de serviço. Segundo o site Mercado Mineiro, o preço médio do litro da gasolina é de R$ 4,081 nos estabelecimentos que possuem apenas as formas convencionais de pagamento. 

Já nos postos que ofertam o parcelamento, o preço na bomba chega a até R$4,299. No caso do etanol, o preço médio na capital é de R$ 2,902, com os estabelecimentos que dividem o pagamento cobrando até R$3,099 por litro. 

Coordenador do curso de Economia do Ibmec, Márcio Salvato afirma que o consumidor que optar por esse tipo de pagamento tem que planejar os gastos para não correr o risco de ficar preso com as altas tarifas cobradas pelos bancos. 

“Se o consumidor entra nessa estratégia e não possui controle de suas contas, ele tem a propensão de se endividar e ficar inadimplente com o cartão de crédito, que tem as maiores taxas de juros. Não é uma estratégia boa para o consumidor. Por mais que alguém se sinta atraído por passar algum problema de renda no momento, a única coisa que acontece é empurrar o pagamento para a frente”, diz. 

Além do parcelamento dos combustíveis, muitos postos também estão oferecendo o parcelamento de outros tipos de produtos e serviços, como troca de óleo, manutenção e acessórios para os veículos.


Postos comemoram aumento na venda de gasolina

Paralelo à discussão sobre os impactos que o parcelamento dos combustíveis pode causar ao bolso do consumidor, os postos comemoram o aumento no movimento a partir da nova estratégia. 

Gerente de um posto no bairro Palmares, na região Nordeste de Belo Horizonte, Alexandre Ramos destaca que além do aumento do fluxo, a medida gera uma fidelização do cliente. 

“Aumentou muito o movimento, ainda mais depois dos últimos reajustes nos preços dos combustíveis. É uma estratégia. A partir do momento em que a pessoa abastece e parcela, ele fica vinculada ao posto. Ela passa a vir nos outros meses para parcelar de novo, ficando vinculada ao posto, em abastecimento, o que para nós é bom”. 

Para a funcionária pública Janaina Ariana, a opção em poder dividir o pagamento do combustível aparece como uma boa saída para ajudar a pagar as contas neste fim de ano. “No meu caso, além do preço alto da gasolina, é a dificuldade do momento. Eu trabalho para o Estado e não tenho a previsão de receber o 13º salário. Mas, no momento, é a melhor alternativa, porque o salário ainda não está garantido”,afirmou. 

Quem corrobora com a opinião de Janaína é o gerente de um posto no bairro Nova Suíssa, região Oeste da Capital, que preferiu não se identificar, mas garante que a estratégia vem sendo bem aceita pelo consumidor. 

“Com certeza aumentou o movimento. O que for para a melhorar, o cliente fica satisfeito. Não cobramos juros, é o preço de bomba. A maioria dos clientes sempre vê com bons olhos esse parcelamento”, disse.

Apesar de demonstrar temor com o possível endividamento do cliente que optar pelo parcelamento do combustível, o economista Márcio Salvato destaca a iniciativa dos postos para atrair o consumidor.

“Há uma maior competição entre os postos, porque o preço está variando quase diariamente. Então, eles estão tentando atrair o consumidor, tentando segurar o preço ou oferecendo novas formas de pagamento, o que é um lado positivo”, afirma. 

 

  

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