Ambientalistas que atuam na região do Parque Estadual Cunhambebe, no Sul Fluminense, consideram que o assassinato do biólogo espanhol Gonzalo Alonso Hermandéz, nas imediações do parque, seja um caso de morte anunciada. Hernández, que tinha 49 anos e estava há pelo menos uma década fixado ali, vinha se indispondo com pessoas que praticavam crimes ambientais.
O corpo dele foi encontrado boiando perto de uma cachoeira, no distrito de Lídice, em Rio Claro, na manhã de terça-feira (6). Na cabeça havia marcas de tiro. Maria de Lurdes Pena Campos, de 48 anos, mulher do biólogo, que trabalha no Rio e só passava os fins de semana em Lídice, disse à polícia que o marido brigava frequentemente com caçadores e palmiteiros clandestinos. O sítio do casal fica numa área isolada vizinha ao parque.
Mariana Vilar, da Instituto Terra de Preservação Ambiental, instituição que trabalha na área, contou que, ainda assim, ele não tinha medo. "Existe uma insatisfação da comunidade pela forma como o Hernandéz defendia os ideais dele. Fazia fiscalização, mas não tinha poder de polícia. Nós, da área ambiental, estamos muito vulneráveis. As leis existem, mas não o aparato de segurança", disse Mariana.
Um amigo militante foi categórico: "Foi uma tragédia anunciada", disse o ativista, que, com medo, preferiu que seu nome não fosse publicado. "Ele tentava convencer as pessoas na base da conversa, mas às vezes tirava fotos dos crimes ambientais. Era muito aplicado no que fazia, inflexível, e, por isso, estava visado."
Hernandéz, segundo ambientalistas, não recebera ameaças diretas, mas tinha desafetos. Ele protegia a nascente e fazia o monitoramento da vazão do Rio das Pedras, um dos afluentes do Rio Piraí, importante para o sistema de abastecimento de água da Região Metropolitana da capital. Além disso, catalogava espécies de animais presentes no parque.
Uma câmera utilizada para o acompanhamento hidrológico, posicionada no caminho que o assassino teria feito para atacá-lo, pode ajudar a polícia na elucidação do crime. O delegado Marco Antônio Alves vê conexão direta entre as denúncias feitas por Hernández e o assassinato.
Os crimes ambientais mais comuns no parque, que se estende por quatro municípios (Rio Claro, Angra dos Reis, Mangaratiba e Itaguaí), são caça e queimada. É comum a autuação de pessoas que devastam para uso agropecuário e também a apreensão de armas de fogo, armadilhas para animais e de aves silvestres mantidas em cativeiro.
A fiscalização é difícil porque são 38 mil hectares. Terceiro maior do Estado, o parque, de remanescentes de Mata Atlântica, existe desde 2008 e abriga espécies ameaçadas de extinção. A área é turística e atrai praticantes de esportes de aventura, como caminhada, voo livre e escalada, pois há trilhas, cachoeiras, paredões e picos.
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