Não é novidade que a escola não detém o monopólio do conhecimento, mas cada vez mais gente simplesmente ignora essa figura para melhorar sua formação ou mesmo decidir novos rumos da carreira. Há quem se aprofunde na internet e outros, angustiados com tanta informação do mundo digital, buscam opções mais inovadoras.
O enfermeiro Julio Santos, de 35 anos, de Manaus, queria melhorar o inglês. Em vez de aprofundar aulas de conversação, preferiu o curso de Parada Cardíaca, Hipotermia, Ciência e Ressuscitação realizado pela internet na universidade americana da Pensilvânia. "Contemplou as duas áreas e me abriu muitas portas do conhecimento", diz ele, que trabalha no Samu de Manaus.
Formada em Artes Visuais, a empresária Fernanda Lamacie, de 25 anos, ganhou do namorado a oportunidade de receber uma caixa com tudo que precisava para entender melhor o universo da nova empreitada, um site de vendas de artigos de decoração e arte, e também sua relação com esse trabalho. Chamado de curadoria do conhecimento, o serviço foi criado por três amigos de São Paulo, que fundaram a Inesplorato.
Apesar da execução complexa, a ideia da curadoria é simples: o cliente diz o que quer saber, a empresa entende essa necessidade e, 45 dias depois, entrega um itinerário organizado e customizado com livros, vídeos, artigos, palestras e até indicação de pessoas para trocar ideias. "A visão de qualquer curso é muito quadrada, é sempre a mesma ideia de mercado", diz. "É diferente de pessoas jovens e inovadoras discutindo o assunto do meu interesse."
Um dos sócios da Inesplorato, Roberto Meirelles, de 27 anos, diz que os interessados variam entre pessoas em crise profissional, empreendedores e curiosos - como um empresário que pretendia se livrar de seu preconceito. "Temos a falsa sensação de ter acesso a tudo. A produção aumenta e nossa capacidade não acompanha, isso gera uma baita angústia", diz. As caixas custam R$ 1,5 mil, investimento razoável para algo que não entra no currículo. "O processo autodidata está se amadurecendo e as pessoas começam a valorizar."
O publicitário Marcos Oliveira, de 34 anos, já fez cursos online (um de gameficação, aplicação da dinâmica de jogos no aprendizado, por exemplo) e encomendou uma caixa. "Meus interesses estão espalhados pelo mundo e fico frustrado no dia a dia. Tinha interesse em saber lidar com isso", diz. "O viés de inovação, que me interessava profissionalmente, veio mais como curiosidade."
Segundo o pesquisador em comportamento jovem Daniel Gasparetti, as pessoas não têm sido mais autodidatas, mas as possibilidades de educação estão mais diversas. "Hoje existe um espectro maior entre o formal e o totalmente informal", diz. "E como maneira de se sentir ativo muita gente está aprendendo o que, por exemplo, não vai usar no trabalho."As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.