SÃO PAULO - Uma menina de três anos foi diagnosticada com pólio em Cabul, no Afeganistão, informou o Ministério da Saúde nesta terça-feira (11). É o primeiro caso da doença na capital desde 2001.
O Ministério lançou uma campanha de vacinação em Cabul para todas as crianças menores de cinco anos.
"Quando eles foram para o hospital depois de um exame, ficou claro que era um caso de pólio", disse o porta-voz do Ministério, Kaneshka Baktash.
Segundo a BBC, a menina, identificada como Sakhina, foi diagnosticada depois de ter ficado paralisada. A pólio é uma doença viral que pode causar paralisia permanente em poucas horas.
Sakhina faz parte de uma tribo nômade que transita entre o Paquistão e o Afeganistão e, segundo Baktash, ela pode ter contraído a doença no país vizinho.
A região de Peshawar, no norte do Paquistão, é o maior reservatório de vírus da doença, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS). No Afeganistão, 12 de 13 casos registrados em 2013 foram contraídos em Peshawar.
Sakhina foi levada para o Paquistão para receber tratamento. Não foram descobertos outros casos em Cabul até agora. Já o Paquistão é o único país no mundo que teve um aumento de casos de pólio em 2013, segundo a OMS foram 85 casos, contra 58 em 2012.
A erradicação da doença é um desafio por causa da disseminação do vírus no Paquistão, onde os vacinadores são alvos de ataques do Taleban. O grupo radical acredita que as campanhas de vacinação são uma forma que o Ocidente encontrou para, na verdade, tornar os muçulmanos estéreis.
Rejeição
Apesar dos esforços do Paquistão de aumentar o salário de vacinadores, dar escolta policial aos agentes de saúde e pedir que mullahs e ímãs desmintam os boatos sobre a vacinação da pólio, 22 vacinadores foram mortos e outros 14 foram feridos no país em 2012 e 2013, segundo o Human Rights Watch.
A resistência da população foi reforçada após a revelação de que a CIA usou uma campanha de vacinação, em 2011, para tentar captar DNA de crianças em um imóvel de Abbottabad, no Paquistão, e assim provar que eram familiares do líder terrorista Osama Bin Laden, morto em 2012.
Além da esterilização, a vacina da pólio é cercada de outros rumores: contém carne de porco cujo consumo é considerado impróprio pelos muçulmanos, não é considerada limpa perante a lei islâmica ou contém o vírus da Aids.
Os vacinadores, por sua vez, são acusados de serem espiões que ajudam a localizar alvos de ataques de drones, já que a região é um dos principais locais de operações do Exército local e dos Estados Unidos contra a presença de militantes da Al Qaeda e do Taleban.
A pólio ainda é endêmica no Afeganistão, Paquistão e no norte da Nigéria, onde outro grupo radical islamita, o Boko Haram, não aceita a vacinação.