Nada menos do que 12 milhões de pessoas estão desempregadas no Brasil, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Em meio ao cenário, a busca por cursos profissionalizantes tem se tornado importante para conseguir uma vaga no mercado de trabalho. O diretor do Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial (Senac), Alisson de Souza Batista, falou sobre a importância e os desafios do modelo educacional.
É correto falar que existe uma maior valorização das pessoas pelos cursos superiores no Brasil em detrimento ao ensino profissional?
Com certeza. Diferente de outras nações, aqui no Brasil a gente ainda vê investimentos muito fracos nesse setor, quando comparado com as universidades. E não estou dizendo com isso que os investimentos em universidades sejam satisfatórios. A formação técnica carece muito de investimentos. Pelo governo do Estado e alguns outros posicionamentos, até pelo governo federal, temos observado nos últimos anos alguns investimentos. Com isso, a gente tem conseguido maior oferta de vagas. Recentemente, tivemos o programa “Trilhas do Futuro”, anteriormente teve o Pronatec. Então, com base nisso, a gente vê alguns esforços. Todavia, ainda não chegam próximos dos esforços voltados para o ensino superior.
O curso técnico realmente ajuda quem está buscando um emprego a conseguir uma vaga mais rápido?
Sim. Temos estudos apontando isso. Vou citar como exemplo um aluno que faz o técnico em Administração. A tendência é a de que, até para ele arrumar um estágio de ensino técnico, é mais rápido do que um estágio de ensino superior.
O senhor atua na Região Metropolitana de Belo Horizonte, uma área muito densamente povoada. Quantos alunos há no Senac na Grande BH?
Temos 700 alunos nos três turnos. Nós respondemos por 11 municípios, então todo o médio Paraopeba, de Florestal até Bonfim, é responsabilidade da unidade. Fisicamente, atendemos diversos eixos tecnológicos: informática, gestão, comunicação, saúde, idiomas, beleza, estética, gastronomia, produção de alimentos. Como são eixos tecnológicos distintos, a gente tem também perfis de alunos distintos.
Qual a média de duração, tendo em vista que essas pessoas acabam precisando de um trabalho rápido?
Os cursos de qualificação, que formam para uma profissão, exigem entre 160 e 240 horas, como assistente administrativo, assistente financeiro, assistente de recursos humanos. Esses duram normalmente de dois a três meses. Eles complementam o conhecimento básico do ensino médio para formar uma profissão. Além disso, a gente tem cursos mais extensos, que trazem vieses mais amplos de uma profissão, como o curso de cozinheiro. Hoje um curso de cozinheiro do Senac em Minas dura em torno de oito meses, com 500 horas.
O senhor percebe algum setor que tem sido mais procurado em função da valorização da mão de obra?
Vimos um advento muito grande na questão da saúde. A procura, por exemplo, pelo curso de cuidador de idosos e cuidador infantil aumentou bastante. Temos oferta desses cursos hoje nos três turnos. Além desses, a gente vê que na região a procura por cursos de logística e administração. Para esses, a busca é cada vez mais constante.
Quais outras vocações e cursos deverão ser ainda mais procurados na região metropolitana?
O nosso setor de inteligência de mercado, que faz esse levantamento prévio, mostra que hoje, para a região que eu atendo – de Betim até o Médio Paraopeba –, ainda estamos com uma grande demanda para as atividades de base: assistente financeiro, assistente administrativo, cursos de Excel. Todos esses a gente abre na unidade e rapidamente as vagas se esgotam devido à alta procura, bem como os da área de saúde. Eu acredito que, na região, os da área de saúde ainda estão em alta, muito procurados porque serão abertos em breve dois hospitais regionais, que devem atender mais de 700 mil habitantes.
E como foi a gestão desses profissionais, tanto de professores como de alunos durante esse período na pandemia?
Foi desafiador, pois enquanto diretor do Senac em Betim, a nossa missão é educar e desenvolver profissionais para o mercado de trabalho. Essa é a premissa do Senac Minas. E aquele 18 de março foi uma data crucial, pois fomos obrigados a fechar a escola e colocar alunos e professores de forma remota, tendo que lidar, às vezes, com perdas familiares, além da angústia de ter algum caso de Covid. Ainda era tudo muito incerto e só vencemos esta etapa difícil porque contamos com o apoio de toda a equipe de professores e funcionários.
E com relação às atividades docentes?
Hoje temos em torno de 30 docentes e uma equipe administrativa de mais ou menos 20 pessoas. Então, alguns cargos são matriciais, eles respondem a mim e à nossa sede administrativa, e os docentes atuam diretamente na sala de aula. A gente teve a migração de parte desses alunos para o on-line ou EAD. Todavia, alguns cursos de muita prática, não teve como fazer. Esses tiveram as aulas suspensas. Curso de maquiador, por exemplo, a gente levou a parte teórica até quando foi possível. Chegou um momento em que a docente nos trouxe essa realidade e não foi possível certificar sem a aula prática, que teve que ficar para depois. Foi um grande desafio, mas conseguimos vencer.
Qual os desafios para a gestão educacional agora neste período de retomada das aulas presenciais e pós fase crônica da pandemia?
Somos uma instituição de ensino, ou seja, trabalhamos com prestação de serviço. Quando você fala de prestação de serviços, automaticamente você vai para o contexto humano. São as pessoas. Então, gerenciar pessoas é o nosso maior desafio. Lá, nós atendemos todos os sindicatos do comércio de bens e serviços de turismo, isso é uma constante. No caso dos alunos que nos procuram individualmente, é a mesma coisa. Procuramos sempre motivar as pessoas, para garantir as melhores entregas do colaborador que está em contexto educacional, seja ele do quadro administrativo ou docente. Falo isso por mim e pelos meus colegas que gerenciam mais 34 unidades em todo o Estado. Esse aluno que chega até nós tem na escola um ambiente onde ele pode dividir suas dores.
Como se inscrever e ter acesso a estes cursos?
Temos a prerrogativa de levar um curso de qualidade gratuito para a população. Então, nós temos um programa Senac gratuidade, que exige que nós, o Senac em Minas, devolva para a população um percentual da contribuição feita pelos empresários. Com base nisso, basta cada um acessar o nosso site, que lá a pessoa vai ver os cursos disponíveis para a sua região. Nós temos muitos cursos, que estão sendo ofertados em diversos turnos. Além disso, nós temos também cursos pagos, temos cursos de graduação, cursos técnicos e até cursos de MBA em nossa sede, na rua Guajajaras, no Centro de Belo Horizonte. A nível estadual, temos convênios com praticamente todas as prefeituras municipais, a partir dos quais as pessoas podem ter acesso gratuito a um curso de qualidade e até o transporte pode ser custeado, dependendo da região. Então, a gente pede que cada pessoa procure a unidade do Senac mais próxima, esteja atenta às opções de curso que estão disponíveis e, certamente, a qualificação vai abrir muitas portas.
Leia também:
Abastecer com etanol segue sendo mais vantajoso em postos da Grande BH
Suspeito de participação em ataque a agência em Itajubá tem liberdade provisória concedida