Delação premiada, divulgada pela “Istoé”, implica Dilma e Lula na “Lava Jato”

Ezequiel Fagundes - Hoje em Dia
04/03/2016 às 07:58.
Atualizado em 17/11/2021 às 02:39

Reportagem exclusiva da revista “Istoé”, divulgada nessa quinta-feira (3), trouxe trechos de uma possível delação premiada do senador Delcídio do Amaral (PT-MS) para a força-tarefa da operação “Lava Jato”. Resultado? Pânico no Planalto por envolver a presidente Dilma Rousseff (PT) no Petrolão.

Assessores de Dilma informaram que ela estava “anestesiada” durante reuniões de emergência com auxiliares e ministros para discutir o impacto da notícia. No fim da tarde, Delcídio divulgou nota em que não confirma o teor da reportagem, mas também não nega. Disse não reconhecer os documentos divulgados.

Delcídio foi líder do governo e tinha bom trânsito no Planalto, cujo temor é de que a possível delação dê fôlego ao processo de impeachment que a presidente enfrenta na Câmara. A pressão política aumenta com piora do cenário econômico: a queda recorde do PIB, o Produto Interno Bruto (leia mais nas páginas 8 e 10).

Delação

O senador citou, conforme a revista, o suposto envolvimento de Dilma e do ex-presidente Lula com o escândalo do pagamento de propina com recursos da Petrobras e a tentativa deles de atrapalhar as investigações. Um dos alvos da “Lava Jato”, Delcídio foi preso em novembro passado acusado de obstruir a investigação. Ganhou liberdade no mês passado após acordo de delação premiada.

As denúncias publicadas pela “Isto É” fazem parte de um documento preliminar da colaboração. Nesta fase, o delator indica temas e nomes que pretende citar em futuros depoimentos. A suposta delação de Delcídio, ou suposto teor do que foi dito em depoimento, ainda não foi homologada pelo Supremo Tribunal Federal (STF).

Ainda conforme a revista, Delcídio acusou Dilma de atuar três vezes na tentativa de interferir nos rumos da investigação. Uma das investidas da presidente envolveria a nomeação do desembargador Marcelo Navarro para o Superior Tribunal de Justiça (STJ), onde ele teria votado a favor da liberação de executivos da Odebrecht e Andrade Gutierrez.

Ainda segundo a publicação, Dilma e o ex-ministro da Justiça José Eduardo Cardozo pediram ao presidente do STF, Ricardo Lewandowski, interferência nos rumos da operação.

Outra investida do Planalto era indicar para uma das vagas no STJ o presidente do Tribunal de Justiça de Santa Catarina, Nelson Schaefer. Em contrapartida, o ministro convocado, Newton Trisotto, votaria pela libertação dos acusados Marcelo Odebrecht e Otavio Azevedo, da Andrade. Trisotto se negou a assumir tal responsabilidade.

Delcídio também responsabilizou Dilma pela negociação da refinaria de Pasadena, no Texas. Afirmou ainda que a presidente foi decisiva na manutenção de Nestor Cerveró na estatal petrolífera.

De acordo com a publicação, foi Lula quem mandou oferecer dinheiro a Cerveró em troca do silêncio dele sobre a participação do pecuarista José Carlos Bumlai na compra de sondas superfaturadas pela Petrobras. Lula estaria ainda à frente de tratativas com o operador do mensalão Marcos Valério.

Segundo a revista, Lula teria pago R$ 220 milhões ao operador do mensalão, Marcos Valério, para que ele não contasse o que sabia do esquema de mesada a parlamentares. O valor não teria sido quitado integralmente.
 
Governo aponta ‘mentiras’ e oposição quer impeachment

O ex-ministro da Justiça e novo advogado-geral da União, José Eduardo Cardozo classificou a possível delação de Delcídio do Amaral como uma mentira. Segundo ele, o senador “mentiu muito” para evitar a delação premiada de Nestor Cerveró e que mente agora como “retaliação” ao governo, por ter sido preso no âmbito da “Lava Jato”.

“Naquilo que me atinge ou atinge a presidente Dilma Rousseff, realmente há um conjunto de mentiras”, reiterou, ressaltando não ter conhecimento se Delcídio tenta um acordo.

Ele sugeriu que o senador está tentando uma delação premiada para se livrar de uma nova prisão com base em informações falsas. Lembrou que, segundo notícias da imprensa, Delcídio teria manifestado, enquanto estava preso, incômodo com a posição do governo, de não tê-lo defendido publicamente.

Para Cardozo, Delcídio age com “vingança” e não tem como provar o que, em tese, teria dito. A defesa de Dilma foi feita durante cerimônia de transmissão do cargo de ministro da Justiça.

Oposição

Senadores de oposição querem incluir a delação premiada de Delcídio do Amaral no processo de impeachment contra a presidente Dilma Rousseff (PT) que tramita na Câmara.

“Na segunda-feira próxima, estaremos aditando essas denúncias, sob assinatura dos juristas Miguel Reale, de Hélio Bicudo e da doutora Janaína, a peça de impeachment que está tramitando na Câmara dos Deputados. Em especial no capítulo que fala de uma possível interferência da presidente da República no processo de investigação da Lava Jato, com a nomeação direcionada de ministros do STJ”, afirmou o senador Aécio Neves, líder da oposição, após encontro com outros líderes.

Defesa do senador não confirma teor da reportagem

O senador Delcídio do Amaral (PT) não confirmou o conteúdo da reportagem publicada pela revista “Isto É”, porém, ateve-se ao questionamento da origem do documento revelado pela publicação.

“Nem o senador Delcídio, nem sua defesa confirmam o conteúdo da matéria”, diz a nota. “Não conhecemos a origem, tampouco reconhecemos a autenticidade dos documentos que vão acostados ao texto”, diz a nota.

Ainda segundo a nota, a defesa do senador diz que não foi procurada pela revista para que se manifestasse a respeito da “fidedignidade dos fatos relatados”.

O senador foi preso em novembro do ano passado, quando ocupava o cargo de vice-líder do governo no Senado, levando temor ao Palácio do Planalto. Na ocasião, o medo era justamente de uma delação premiada. Delcídio foi solto neste ano após enviar vários recados aos petistas.

No Senado, Delcídio responde a processo que pede a cassação de seu mandato por quebra de decoro.

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