O mais importante na reportagem publicada pelo Hoje em Dia sobre a suspeita de superfaturamento de obra da Aeronáutica em Minas é que denúncias como esta, envolvendo as Forças Armadas, podem hoje ganhar a luz do sol, pelas páginas do jornal, ao contrário do que ocorria em período não muito distante de nossa história, em que a imprensa esteve sob a censura.
Vamos recordar um episódio bem conhecido da imprensa mineira. Em 1961, o semanário “O Binômio” revelou que o então comandante do Exército em Belo Horizonte, general Punaro Bley, que posava de democrata, havia cometido arbitrariedades como interventor no Espírito Santo durante a ditadura Vargas. A reação do general foi imediata: dirigiu-se ao jornal, discutiu com o diretor José Maria Rabelo e partiu para o confronto físico com o jornalista. Rabelo, que na época era excelente judoca, se defendeu, e fotos do general com o rosto ensanguentado foram publicadas com destaque por vários jornais brasileiros. Em 1964, por ocasião do golpe militar, o jornal foi fechado pelo Exército e seu diretor teve que fugir para a França, para não ser preso.
Quando a imprensa é intimidada pelos ocupantes do poder, os malfeitos permanecem na sombra e podem se multiplicar sem que a população saiba. É o que ocorreu no Egito e em tanto outros países infelicitados por ditaduras. Portanto, é muito bom que estejamos vivendo hoje na democracia, por mais imperfeita que ela seja, e sob o manto constitucional de uma imprensa livre. “A luz do sol é o mais poderoso detergente”, segundo a célebre frase do juiz Hugo Black, da Suprema Corte dos Estados Unidos.
Sem a constante exposição a essa luz, governos podem deixar ao povo a impressão errada de que são honestos, pois escândalos de corrupção não vêm a público. É por isso que se observa certo saudosismo no meio dos menos informados sobre nossa última ditadura, pois vivem sob a impressão de que naquela época, ao contrário de agora, os corruptos não podiam assaltar o erário. Ledo engano.
Não sabemos se será confirmada ou não a suspeita de superfaturamento de R$ 17 milhões na construção do novo Centro de Instrução e Adaptação da Aeronáutica, em Lagoa Santa, uma instituição que interessa aos mineiros. As denúncias serão apuradas pelo Tribunal de Contas da União e pela própria FAB. Portanto, devemos aguardar os resultados. É muito reconfortante saber que a Aeronáutica também está exposta ao poderoso detergente solar.